afastou-se de seu mundo, de perto dos seus
para viver o sonho que o invasor lhe propagara
entregar todos os seus ideais e sua alma
a uma obra humana que diziam ser de Deus
e lá fora aquele tão forte sonhador
que tanto queria ir à terra de além-mar
fazer-se mais homem e aprender a ensinar;
a ser o melhor empenhou-se como num labor
a promessa fez-se ato e pôs-se o jovem a caminho
estudou, rezou, trabalhou, chorou e fez-se grande
para ser o melhor por onde quer que um dia ande
mesmo que sua solidão o massacre quando sozinho
a vida é irônica e num dia desses que a gente nunca esquece
seu diretor o chamou e perguntou-lhe o que ainda queria
nessa vida, pois nela já não mais o aceitaria
e seria melhor que de seus sonhos se desfizesse
desiste, então, ao sonho o meigo moço
o rapaz que há tanto se crera irmão
dos pobres e nobres filhos da solidão
os perdidos sem luz no fundo tácito do poço
a palavra do mestre confirma-lhe a dispensa
a voz imperiosa lhe ordena a saída
“não mais cabes aqui nesta tão reta vida
falta-te a dignidade cristã, a nossa crença
vai-te, pois, aos teus, onde não se pensa
pois o mito é quem governa-lhes na calma
é na cegueira que mora a tua alma
hás de morrer nessa ingenuidade imensa”
quem tem honra nem sua indignação é permitido mostrar
mesmo que coloquem em cheque sua consciência visível:
no jogo do poder reina a trama inaudível
que mata o sonho sem que permitam-no se expressar
Ao amigo Armando João Monteiro, de Moçambique
Janeiro de 2015
JARDIM DE PESSOALIDADES
quinta-feira, 1 de agosto de 2024
sábado, 27 de julho de 2024
O QUÊ É?
o que vê num segundo
em seu mundo, José?
o que sonha em seu sonho
profundo, o que é?
o que te faz reagir
a um comando que quer
te ver sempre bem
e autônomo, José?
o que guarda teu sorriso
ao que te digo, o que é?
a alegria da vida
que só se guarda na fé...
o que levo em meus braços
o que levo, o que é?
é a certeza que tudo
é mais belo que é...
o que percorre minhas pernas
e decorre, o que é?
é a sanha de uma luta
e não posso dar ré...
e decorre, o que é?
é a sanha de uma luta
e não posso dar ré...
e, quem tenho comigo
que me mantém em pé?
são meu pais e irmão
que não perdem a fé!
que me mantém em pé?
são meu pais e irmão
que não perdem a fé!
Para: José Matheus Marinho Moreira
De: José Heber de Souza Aguiar, Imperatriz/MA, 31/10/2023
segunda-feira, 24 de maio de 2021
Prometêico
queria poder apertar-te ao meu peito
para sentires o calor que me esquenta o corpo
à noite quando declino meu corpo
em minha lúgubre cama e deito
de tristeza e solidão é que sou feito
minha fragilidade intranquila expressa-se na cama
quando penso sem parar em ti, e, na própria cama
durmo e sonho com teu meigo jeito
meus sonhos são curtos e meu mundo estreito
acordo e penso que és a mais pura santa
vejo só em ti a pureza de uma santa
e peço a Deus perdão por meu infame desrespeito
nas noites melancólicas torno-me vulgar sujeito
perco-me na impureza de meu corpo num teu pensamento
fujo da minha moral, do meu pudor e do pensamento
que guardo de mim: sou, então, constantemente desfeito
como um limitado, não compreendo o efeito
de minha mudança como da água ao vinho
para esquecer o que sou deleito-me no vinho
só no dia seguinte é que outra vez me aceito
escondo o ser sensível que há em mim, sempre me enfeito
pois ser fraco, frágil, mostrar como sou
expressar-me nessa vida não posso, e o que sou
fica na ingenuidade de quem me tem por perfeito
viver entre a vagina e a cruz é o que rejeito
de um dilema moral é que sou constituído
e, assim, vivo tão mal constituído
sobrevivendo a esse sofrimento prometêico José Heber de Souza Aguiar Porto Alegre - RS, 11/09/2008
para sentires o calor que me esquenta o corpo
à noite quando declino meu corpo
em minha lúgubre cama e deito
de tristeza e solidão é que sou feito
minha fragilidade intranquila expressa-se na cama
quando penso sem parar em ti, e, na própria cama
durmo e sonho com teu meigo jeito
meus sonhos são curtos e meu mundo estreito
acordo e penso que és a mais pura santa
vejo só em ti a pureza de uma santa
e peço a Deus perdão por meu infame desrespeito
nas noites melancólicas torno-me vulgar sujeito
perco-me na impureza de meu corpo num teu pensamento
fujo da minha moral, do meu pudor e do pensamento
que guardo de mim: sou, então, constantemente desfeito
como um limitado, não compreendo o efeito
de minha mudança como da água ao vinho
para esquecer o que sou deleito-me no vinho
só no dia seguinte é que outra vez me aceito
escondo o ser sensível que há em mim, sempre me enfeito
pois ser fraco, frágil, mostrar como sou
expressar-me nessa vida não posso, e o que sou
fica na ingenuidade de quem me tem por perfeito
viver entre a vagina e a cruz é o que rejeito
de um dilema moral é que sou constituído
e, assim, vivo tão mal constituído
sobrevivendo a esse sofrimento prometêico José Heber de Souza Aguiar Porto Alegre - RS, 11/09/2008
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Biografia de Paulo Freire (Pelo centenário de nascimento de Paulo Freire)
o universo é tão grandioso
que não há quem a seu fim beire
e, com tanta imensidão
como luta, poesia e canção
presenteou-nos Paulo Freire
em qualquer tempo e dia
uma estrela se pode fazer
mas foi em 1921, em Recife
num 19 de setembro, sem requifife
que Freire veio a nascer
capitão da Polícia Militar era seu pai
Joaquim Temístocles Freire
e sua mãe que o fez o mundo amar
e que gostava de a vida lhe ensinar
Edeltrudes Neves Freire
menino franzino e instigante
ainda no Recife amado
iniciou o curso ginasial
num 14 de Julho, dia especial
mesmo tímido, leve e calado
como rio que passa num manar constante
também deixou Freire seu natal lugar
saindo de Recife em tão tenra idade
em Jaboatão dos Guararapes, na mocidade
foi sua iniciante vida transformar
aos 13 anos seu pai perdeu
à sua mãe com devota perseverança
competiu aos quatro filhos, com garra, criar
e, em todos, fielmente, gerar
sobre a vida, plena esperança
os percalços no percurso são batalha que se vence
com determinação e firme fé, constante
vendo a mãe, sem a escola poder pagar
Freire se fez de Língua Portuguesa auxiliar
tornando-se professor titular mais adiante
sonhador apaixonado e menino brilhante
aos 22 anos vislumbrou à vista seu futuro
e, em Recife, estudou Direito, na Faculdade
curso escolhido com tão pouca idade
e, que, por convicção, não exerceu o arcturo
em 1944, casou-se com a professora primária
Elza Oliveira com quem teve cinco filhos
e o levou a trabalhar com adultos, na educação
o que fez em toda sua vida com paixão:
estava reservado na constelação seu brilho
para Freire a vida há que ser interpretada
não só de teoria um professor se abastece
e põe-se a elaborar em luta corriqueira
“Educação e Atualidade Brasileira”
em 1959, doutora-se com essa tese
o contexto da vida deve estar na educação
com Freire de onde se vem não se nega
a sabedoria da vida é conteúdo importante
refletir sobre o mundo é significante
e o saber popular não se renega
a pobreza é limitada visão de mundo
que a educação reprodutora encuca
a esperança é labor constante
de uma educação dignificante
que leva todos à nova conduta
Angicos, em inícios de 60, provou
que é válido, no aprender, o saber popular
e o ensino deve se dar contextualizado
para que ocorra o real aprendizado
e seja possível o saber e a vida celebrar
quão arriscado o saber é:
para que ensinar cortadores de cana?
as 40 horas de Angicos são o mote
que deu, desde o Rio Grande do Norte
o viver atento ao mundo que a vida emana
tão grandiosa foi de Freire a proeza
que João Goulart, da época o presidente
quis a cinco milhões alfabetizar
e o educador pôs-se as mangas a arregaçar
mas o golpe militar calou toda a gente
o valoroso método de Freire proporcionou
um revisitar crítico, constante
que o mundo inteiro aprovou
mas o Brasil da ditatura desperdiçou
expulsando seu criador para tão distante
por 72 dias fora mantido preso
era comunista e perigoso para a gente
desnecessário ao futuro do Brasil
e obrigado do País saiu
foi ensinar em outra frente
a Bolívia e o Chile pôde iluminar
a muitos analfabetos camponeses
o nosso educador tão decidido
e lá redigiu Pedagogia do Oprimido
que sempre se pode ler muitas vezes
Freire foi mundo a fora, além
educador em ex-colônias africanas que estavam mal
secretário de educação do CONIC, na Suíça
há muitos levou pela educação, justiça
em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Guiné Bissau
(e o Brasil sob a ditadura muito mal)
Cidadão honorário de São Paulo, Los Angeles e Angicos
foi professor convidado em Harvard
e, depois de 16 anos em exílio
em que prestou a muitos seu auxílio
veio ajudar o Brasil sem alarde
medalhas e prêmios sem fim recebeu
Doutor Honoris Causa em 28 universidades pelo mundo
Patrono da Educação Brasileira
prêmios e menções em fileira
muito escreveu, crítico, enfático, profundo:
A importância do ato de ler
Educação e atualidade brasileira
Educação como prática da liberdade
Ação cultural para a liberdade
À sombra desta mangueira
Pedagogia do oprimido
A propósito de uma administração
Pedagogia da esperança
Educação e mudança
Alfabetização e conscientização
Pedagogia da autonomia
Pedagogia da indignação
Educação popular
Cultura popular, educação popular
Extensão ou comunicação
Os cristãos e a libertação dos oprimidos
Cartas à Guiné-Bissau, Sobre educação
“Conversando com educadores”, como se viu
Multinacionais e trabalhadores no Brasil
Conscientização: teoria e prática da libertação
Na escola que fazemos:
uma reflexão interdisciplinar em educação popular
Ideologia e educação
“Por uma Pedagogia da pergunta”, como ação
e, “Aprendendo com a própria história”, para ensinar
“Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais”
“Alfabetização-leitura de mundo, leitura da palavra”
Freire teve uma grandiosa obra, resolvida
“Fazer escola conhecendo a vida”
obras com que a todos ensinava
entre o nascer e o viver
de uma grande estrela
há alegrias e tristezas
como há muitas belezas
que sempre pode envolvê-la
em qualquer tom e harmonia
uma estrela se pode apagar
em 02 de maio de 1997
de motivo inconteste
Freire nos veio a deixar
Freire é infinita luz que brilha
sobre o alto Campanário
e como autor sempre pungente
que anima sempre a gente
recordamos seu centenário
José Heber de Souza Aguiar,
Imperatriz-MA, 20 de maio de 2021, dia d@ Pedagog@
que não há quem a seu fim beire
e, com tanta imensidão
como luta, poesia e canção
presenteou-nos Paulo Freire
em qualquer tempo e dia
uma estrela se pode fazer
mas foi em 1921, em Recife
num 19 de setembro, sem requifife
que Freire veio a nascer
capitão da Polícia Militar era seu pai
Joaquim Temístocles Freire
e sua mãe que o fez o mundo amar
e que gostava de a vida lhe ensinar
Edeltrudes Neves Freire
menino franzino e instigante
ainda no Recife amado
iniciou o curso ginasial
num 14 de Julho, dia especial
mesmo tímido, leve e calado
como rio que passa num manar constante
também deixou Freire seu natal lugar
saindo de Recife em tão tenra idade
em Jaboatão dos Guararapes, na mocidade
foi sua iniciante vida transformar
aos 13 anos seu pai perdeu
à sua mãe com devota perseverança
competiu aos quatro filhos, com garra, criar
e, em todos, fielmente, gerar
sobre a vida, plena esperança
os percalços no percurso são batalha que se vence
com determinação e firme fé, constante
vendo a mãe, sem a escola poder pagar
Freire se fez de Língua Portuguesa auxiliar
tornando-se professor titular mais adiante
sonhador apaixonado e menino brilhante
aos 22 anos vislumbrou à vista seu futuro
e, em Recife, estudou Direito, na Faculdade
curso escolhido com tão pouca idade
e, que, por convicção, não exerceu o arcturo
em 1944, casou-se com a professora primária
Elza Oliveira com quem teve cinco filhos
e o levou a trabalhar com adultos, na educação
o que fez em toda sua vida com paixão:
estava reservado na constelação seu brilho
para Freire a vida há que ser interpretada
não só de teoria um professor se abastece
e põe-se a elaborar em luta corriqueira
“Educação e Atualidade Brasileira”
em 1959, doutora-se com essa tese
o contexto da vida deve estar na educação
com Freire de onde se vem não se nega
a sabedoria da vida é conteúdo importante
refletir sobre o mundo é significante
e o saber popular não se renega
a pobreza é limitada visão de mundo
que a educação reprodutora encuca
a esperança é labor constante
de uma educação dignificante
que leva todos à nova conduta
Angicos, em inícios de 60, provou
que é válido, no aprender, o saber popular
e o ensino deve se dar contextualizado
para que ocorra o real aprendizado
e seja possível o saber e a vida celebrar
quão arriscado o saber é:
para que ensinar cortadores de cana?
as 40 horas de Angicos são o mote
que deu, desde o Rio Grande do Norte
o viver atento ao mundo que a vida emana
tão grandiosa foi de Freire a proeza
que João Goulart, da época o presidente
quis a cinco milhões alfabetizar
e o educador pôs-se as mangas a arregaçar
mas o golpe militar calou toda a gente
o valoroso método de Freire proporcionou
um revisitar crítico, constante
que o mundo inteiro aprovou
mas o Brasil da ditatura desperdiçou
expulsando seu criador para tão distante
por 72 dias fora mantido preso
era comunista e perigoso para a gente
desnecessário ao futuro do Brasil
e obrigado do País saiu
foi ensinar em outra frente
a Bolívia e o Chile pôde iluminar
a muitos analfabetos camponeses
o nosso educador tão decidido
e lá redigiu Pedagogia do Oprimido
que sempre se pode ler muitas vezes
Freire foi mundo a fora, além
educador em ex-colônias africanas que estavam mal
secretário de educação do CONIC, na Suíça
há muitos levou pela educação, justiça
em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Guiné Bissau
(e o Brasil sob a ditadura muito mal)
Cidadão honorário de São Paulo, Los Angeles e Angicos
foi professor convidado em Harvard
e, depois de 16 anos em exílio
em que prestou a muitos seu auxílio
veio ajudar o Brasil sem alarde
medalhas e prêmios sem fim recebeu
Doutor Honoris Causa em 28 universidades pelo mundo
Patrono da Educação Brasileira
prêmios e menções em fileira
muito escreveu, crítico, enfático, profundo:
A importância do ato de ler
Educação e atualidade brasileira
Educação como prática da liberdade
Ação cultural para a liberdade
À sombra desta mangueira
Pedagogia do oprimido
A propósito de uma administração
Pedagogia da esperança
Educação e mudança
Alfabetização e conscientização
Pedagogia da autonomia
Pedagogia da indignação
Educação popular
Cultura popular, educação popular
Extensão ou comunicação
Os cristãos e a libertação dos oprimidos
Cartas à Guiné-Bissau, Sobre educação
“Conversando com educadores”, como se viu
Multinacionais e trabalhadores no Brasil
Conscientização: teoria e prática da libertação
Na escola que fazemos:
uma reflexão interdisciplinar em educação popular
Ideologia e educação
“Por uma Pedagogia da pergunta”, como ação
e, “Aprendendo com a própria história”, para ensinar
“Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais”
“Alfabetização-leitura de mundo, leitura da palavra”
Freire teve uma grandiosa obra, resolvida
“Fazer escola conhecendo a vida”
obras com que a todos ensinava
entre o nascer e o viver
de uma grande estrela
há alegrias e tristezas
como há muitas belezas
que sempre pode envolvê-la
em qualquer tom e harmonia
uma estrela se pode apagar
em 02 de maio de 1997
de motivo inconteste
Freire nos veio a deixar
Freire é infinita luz que brilha
sobre o alto Campanário
e como autor sempre pungente
que anima sempre a gente
recordamos seu centenário
José Heber de Souza Aguiar,
Imperatriz-MA, 20 de maio de 2021, dia d@ Pedagog@
Duas Perdas
essa Covid do cão
é um feito endiabrado
nos tira a alegre sensação
de quem está ao nosso lado
duas vidas de nosso meio levou
queridas mulheres de Deus
quem as conhece ficou
a pedi-las junto aos Seus
e, nós, órfãos ficamos
sem a Elisângela e a prefeita
com quem muitas vezes brincamos
e como será nossa tez refeita?
que Elisângela e Maria estejam
junto a Deus e Seu Espírito Santo
e, na alegria do céu com que festejam
cuidem de nós em nosso canto
difícil dizer, mas o que será
da segunda turma de Teologia
que caminho trilhará
sem de suas duas amigas a alegria?
mas a morte é parte da vida
é no que, pela fé, acreditamos
mantenhamos a cabeça erguida
e a convicção firme dos planos
José Heber de Souza Aguiar, Imperatriz-MA, 20 de maio de 2021.
é um feito endiabrado
nos tira a alegre sensação
de quem está ao nosso lado
duas vidas de nosso meio levou
queridas mulheres de Deus
quem as conhece ficou
a pedi-las junto aos Seus
e, nós, órfãos ficamos
sem a Elisângela e a prefeita
com quem muitas vezes brincamos
e como será nossa tez refeita?
que Elisângela e Maria estejam
junto a Deus e Seu Espírito Santo
e, na alegria do céu com que festejam
cuidem de nós em nosso canto
difícil dizer, mas o que será
da segunda turma de Teologia
que caminho trilhará
sem de suas duas amigas a alegria?
mas a morte é parte da vida
é no que, pela fé, acreditamos
mantenhamos a cabeça erguida
e a convicção firme dos planos
José Heber de Souza Aguiar, Imperatriz-MA, 20 de maio de 2021.
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Do viver
(/Kessia M. P. M)
no devir em que se põe
a vida humana
hereditariamente se deixa
resoluta
biológica e mentalmente
transmuta
adapta-se, sapiofilicamente, ao mundo:
ama!
vai e vem
sempre volta
basilar e esquematicamente
a vida é delirante curva torta
beijo de noiva delirante
deflui-se efêmera
porta...
como saber que se não sabe
a vida abarca
a busca da verdade
em comunhão
ainda que intrépida solidão
amarga
é saber que se abre à imensidão!
20 de julho de 2020,
José Heber de Souza Aguiar
no devir em que se põe
a vida humana
hereditariamente se deixa
resoluta
biológica e mentalmente
transmuta
adapta-se, sapiofilicamente, ao mundo:
ama!
vai e vem
sempre volta
basilar e esquematicamente
a vida é delirante curva torta
beijo de noiva delirante
deflui-se efêmera
porta...
como saber que se não sabe
a vida abarca
a busca da verdade
em comunhão
ainda que intrépida solidão
amarga
é saber que se abre à imensidão!
20 de julho de 2020,
José Heber de Souza Aguiar
domingo, 5 de julho de 2020
Mulher Educadora
Miriam,
nordestina
na fazenda
onde vivia
devia
cuidar da casa
era o que
sempre se dizia
desde cedo
escutava
isso lhe
constrangia
mas lutou
e escreveu
sua sina
de um dia
mulher forte,
aguerrida
não gastou
sua mocidade
magistério
pôs-se a cursar
único estudo
na cidade
decidiu
ser professora
e, por
necessidade
foi-se
embora para São Paulo
vencer a
vida sofrida
lá, na
Universidade
estudou Letras,
Português/Inglês
trabalhava
em duas cidades
vida dura
outra vez
no caminho
de uma a outra
é que
preparava as atividades
experiência
que lhe deu
novas
aprendizagens
ciente de
que a vida
é eterna
formadora
foi com
suas professoras
que
inspirou-se a ser como é
e de suas
educadoras
foi o brilho nos olhos,
e a vontade de ajudar,
de tirar da escuridão
que a fez
ensinar
e criar
condições
de o mundo
conquistar
professora
de inglês
integrou-se
ao Projeto
Global
Schools Partnerchip
que teve
imenso sucesso
ao levar,
em intercâmbio
alunos ao
universo
via pequena
Stockport
a tornar o
mundo perto
aluno com 11
anos
através da
parceria
de São
Paulo, noite e dia
na Escola
ou em casa
com o
laptop do UCA
a língua
inglesa dominava
e, duas
vezes por semana
com 45
minutos cada vez
e-mails
trocava
e traduzia
ao português
e novas
amizades
dessa
forma é que ele fez
pelo
Projeto, Miriam
aproveitou
de uma vez
para
ensinar mais que a língua
e o google Earth foram explorar
ensinou
onde ficava
aquele
lindo lugar
na
Inglaterra, velho mundo
que estavam
a desvendar
em certa
oportunidade
três
professores viajaram
para
aquele lugar
de onde
trouxeram materiais
para as
crianças ensinar
desde as
cores da bandeira
ou as
comidas de lá
de fish and Chips
a Bangers and Mash
e de peixe
com fritas
a salsichão
e purê
as
crianças aprenderam
o que
podiam saber
de conceitos
matemáticos
aos preços
nos locais
em inglês
e português
aprendeu-se
muito mais
naquele
projeto rico
interdisciplinar
o sucesso
foi tanto
que não
podia parar
daquela
experiência
teve até
pai que disse
sem
qualquer descrença
que ali
inglês se aprendia mais
que na
escola de idioma
e que de
lá tiraria o filho
sem dúvida
nenhuma
Miriam, em
seus 30 anos
como
valente professora
pôs-se
douta mulher
exímia
educadora
que saiu
daquela terra
em que a
dificuldade permanecia
e foi
viver na Inglaterra
os últimos
de seus dias
com a
certeza de que ensinar
só pode
trazer alegria!
Imperatriz-MA, Julho de 2020.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Flores
se você vier
venha toda amores
se você vier
me extirpará as dores
se você vier
não se demore e, se novamente fores
derramarei-me em pranto eterno
e minhas lágrimas regarão as flores
que serão suas
se você, novamente, vier...
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Passa
passa o tempo
a chuva passa
passa o ranço
o corpo, a carcaça
passa a vida
que, em chusmas, passa
passa o passo
que sempre passa
passa a música
que me abrasa
passa a dor
que me arrasa
passa o grito
executado em massa
passa o mito
que se extravasa
passa o toque
que se agrava
passa a lua
que se apaga
como o rastro do poema...
que passa... e passa
sexta-feira, 26 de março de 2010
Veredicto
a coragem tardia
à emoção fadada
a última larva
à voragem dada
a única palavra
à sensação vadia...:
daí ao nada
o que é do nada
Canoas-RS
24/10/09
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Onissapiência
eu conheço a hora
do teu sono
eu conheço a orgia
do teu sonho
eu conheço a eira
do teu giro
eu conheço a beira
do teu mundo
São Carlos-SP
10/03/2008
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Janela do terceiro andar
debaixo da janela do terceiro andar
esbarram-se corpos soerguidos
esvaem-se projetos, ideais e emoções
debaixo da janela do terceiro andar
lá fora, longe da janela do terceiro andar
o formigueiro humano sonha
derramam-se lágrimas de sofrimento humano
lá, longe da janela do terceiro andar
ao alto, à janela do terceiro andar
há um olhar atento e atônito
observando os passos de todos que passam
à janela do terceiro andar
filosofando da janela do terceiro andar
deparo-me soerguido
atento a todos os movimentos humanos
da janela de minha alma
Canoas-RS
sábado, 5 de setembro de 2009
Canção do Exílio de um Uruaraense
(Uruará, 22 anos, 1987-2009)
que saudade da minha terra
onde ficaram os sabiás
que saudade do meu mundo
que eu não trouxe para cá
que saudade da infância
que deixei, da minha vida
que saudade do meu Norte
minha terra tão querida
que saudade do imenso verde
que tem nas terras de lá
que saudade das tantas matas
que aqui não se pode encontrar
que saudade, que saudade
do chão cheiroso do Pará
não permita, Deus, que eu morra
sem voltar pra Uruará
Canoas - RS, 05 de Setembro de 2009
Publicado no Livro Poemas Dedicados. Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2009. http://www.camarabrasileira.com/poemasdedicados2009.htm
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Sobre a brevidade da vida
não temos domínio do tempo e da vida
não conhecemos o segundo que passa
não conhecemos a dor que transpassa
em angústia, o dia porvir de cada vida
não conhecemos a dor da hora e da vida
do homem boêmio que morre louco
em angústia, por não muito pouco
perder-se em si o gosto pela vida
passa o tempo num dia de uma vida
passa-se a hora no sentimento perdido
da dor do não, dispensado ao mendigo
da dor da morte a orientar a vida
Canoas - RS, 04 de Setembro de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
Sob o céu azul da Cidade Alegre
quisera eu não mais ver
o cotidiano da vida
sobre o qual reina confuso
o clamor do mendigo
a fugir dos améns da injustiça
esparramam-se ao chão as migalhas
dos pães, dos dias, da dor, do pretenso homem
sob o céu azul da Cidade Alegre
que transforma a exploração
em subversiva trama:
liberdade em lucro
lucro em fel
vida em lixo
lixo em céu
grita aos meus olhos
a dor da vida
no choro inocente da criança
a implorar o pão
da fome
Porto Alegre-RS, 12 de junho de 2007 (29/08/09)
sábado, 22 de agosto de 2009
Epitáfio
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Posmaturo
do que não mais nascia
surgiu o feto errante
esse meu verso perambulante
vomitado dum desejo que ardia
cedo ou tarde ele viria
assim que vem já se apresenta
ainda que frio logo esquenta
essa natureza poética vadia
e mesmo negando a verdade que queria
(essa coisa louca eterna trama
que em meu corpo se perde e se emana
alma em luto que os meus pecados contraia)
não poderá dominar a vontade perambulante
do caminhar solito de meu verso errante
Canoas - RS, 09/03/2009
surgiu o feto errante
esse meu verso perambulante
vomitado dum desejo que ardia
cedo ou tarde ele viria
assim que vem já se apresenta
ainda que frio logo esquenta
essa natureza poética vadia
e mesmo negando a verdade que queria
(essa coisa louca eterna trama
que em meu corpo se perde e se emana
alma em luto que os meus pecados contraia)
não poderá dominar a vontade perambulante
do caminhar solito de meu verso errante
Canoas - RS, 09/03/2009
domingo, 7 de junho de 2009
Tenho medo
tenho medo
do medo de mim
fujo do sonho
do sonho que, enfim
não nasce comigo
antes, e assim
perde-se no nada
um nada ruim
resta-me agora
do sonho de mim
fazer-se-me outro
outro, enfim
que me emane sem medo
talvez só assim
não reine confuso
o desejo ruim
que vive, aqui, preso
dentro de mim
José Heber de Souza Aguiar
São Carlos – SP em 09/03/2008
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Surreal
sonho por sonho, real por real
o amor sempre bate à porta
e bem ou mal, vai e volta
torto, morto, mas ancorado ao porto
de vermelho ou verde ou sempre mal
o amor é o bíblico pai pródigo
indeciso como a arte de Van Gogh
surreal
Canoas - RS, 24/04/2009
o amor sempre bate à porta
e bem ou mal, vai e volta
torto, morto, mas ancorado ao porto
de vermelho ou verde ou sempre mal
o amor é o bíblico pai pródigo
indeciso como a arte de Van Gogh
surreal
Canoas - RS, 24/04/2009
sábado, 25 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Eterna lida
tenho a alma
assentada
calma
nesse meu pobre peito
tenho um grande feito
assombrado
ensimesmado
nessa, sem volta, ida
tenho a lida
calejada
amargurada
por um pesadelo em meu sono
tenho um sonho:
ter na alma
a calma
enquanto nessa eterna lida...
chamada vida
São Carlos - SP
05/05/2008
assentada
calma
nesse meu pobre peito
tenho um grande feito
assombrado
ensimesmado
nessa, sem volta, ida
tenho a lida
calejada
amargurada
por um pesadelo em meu sono
tenho um sonho:
ter na alma
a calma
enquanto nessa eterna lida...
chamada vida
São Carlos - SP
05/05/2008
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Khothbiro
a morte passa, e às vidas sem destino se entrelaça e mata
desfaz-se em ódio frente à inocentes almas, almas frágeis
corpos inocentes, gentes crentes no amanhã melhor que não conhecem
e o sangue escorre da pele negra e banhada em pólvora queimada
a alma escapa ao que resta de humano daquele destroçado corpo
a voz desesperada clama em canto, o socorro que não é ouvido
corre sem rumo o desejo de viver, corre sem sentido e sem direção
a guerra mata o sonho humano de vida, a guerra mata qualquer sonho
a guerra destrói a direção ao destruir o sentido do caminho
a guerra é impotente porque a destruição não pode destruir
desfaz-se em ódio frente à inocentes almas, almas frágeis
corpos inocentes, gentes crentes no amanhã melhor que não conhecem
e o sangue escorre da pele negra e banhada em pólvora queimada
a alma escapa ao que resta de humano daquele destroçado corpo
a voz desesperada clama em canto, o socorro que não é ouvido
corre sem rumo o desejo de viver, corre sem sentido e sem direção
a guerra mata o sonho humano de vida, a guerra mata qualquer sonho
a guerra destrói a direção ao destruir o sentido do caminho
a guerra é impotente porque a destruição não pode destruir
sexta-feira, 27 de março de 2009
O Homem
o homem, esse covarde homem
bastardo da desordem e do descontentamento
filho das glórias do tormento
realidade que me tanto consome
pôs-se sobre minha alma, o ser
o bravio corpo que não conhece a razão
aquele homem-bicho sem noção
que usa da desonestidade pra viver
eu, como homem de coisas ralas
da sensibilidade de todo o ser
que não sou acostumado a viver
com a ignorância dessas toscas falas
pus-me homem sensível a observar
o que a dureza daquele pobre coração
tinha como grande e verdadeira razão
ao querer tanto me fazer calar
a desgraça da alma é a dor do homem
que mesmo dócil animal, se ferido
põe-se a esbravejar peito aguerrido
frente ao desespero e dor que lhe consome
eis que aquele duro humano de papel
não mais era que uma doce ferida
o gole bravo da tão forte bebida
que deixa-o sem razão, se imbuído em fel
todo grande homem é um pequeno ser
o engenho frágil de um Deus tão forte
que permite à sua criação conhecer a morte
sem que encontre a razão de viver
somos fadados a viver, e sofrer é o que resta
àqueles que não conhecem o clarão
e dispensam o doce hino em canção
que esvai-se da alma por uma fresta
grande e bendito seja todo o homem
que põe-se alma sempre amena
a fazer grande coisas tão pequenas
maiores que o medo da morte que lhe consome
bastardo da desordem e do descontentamento
filho das glórias do tormento
realidade que me tanto consome
pôs-se sobre minha alma, o ser
o bravio corpo que não conhece a razão
aquele homem-bicho sem noção
que usa da desonestidade pra viver
eu, como homem de coisas ralas
da sensibilidade de todo o ser
que não sou acostumado a viver
com a ignorância dessas toscas falas
pus-me homem sensível a observar
o que a dureza daquele pobre coração
tinha como grande e verdadeira razão
ao querer tanto me fazer calar
a desgraça da alma é a dor do homem
que mesmo dócil animal, se ferido
põe-se a esbravejar peito aguerrido
frente ao desespero e dor que lhe consome
eis que aquele duro humano de papel
não mais era que uma doce ferida
o gole bravo da tão forte bebida
que deixa-o sem razão, se imbuído em fel
todo grande homem é um pequeno ser
o engenho frágil de um Deus tão forte
que permite à sua criação conhecer a morte
sem que encontre a razão de viver
somos fadados a viver, e sofrer é o que resta
àqueles que não conhecem o clarão
e dispensam o doce hino em canção
que esvai-se da alma por uma fresta
grande e bendito seja todo o homem
que põe-se alma sempre amena
a fazer grande coisas tão pequenas
maiores que o medo da morte que lhe consome
segunda-feira, 23 de março de 2009
Frustração
http://www.camarabrasileira.com/pca09-014.htm
Publicado na Antologia "Poesia de Corpo & Alma", Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2009. ISBN: 978-85-7810-496-2
na solidão de teu seio
a razão do teu insulto:
“afaste-se diabo, tonto, feio
besta morta, alma tosca, vulto”
na ilusão de teu sonho
o teu amor astuto:
“abraça-me amante, lambe-me o seio
anjo tenro, amor eterno onde exulto”
na comunhão com teu receio
(ao que lhe digo) o ódio mútuo:
“abranda-me a alma, partida ao meio
por seu pobre amor sem fruto”
São Carlos – SP
03/04/2008
terça-feira, 17 de março de 2009
Até que a Morte os Separe
(até que a morte do amor os separe)
no altar a jura eterna
a sempiterna jura de um amor
somente a morte é o que os poderá separar
a promessa é feita à alma
da mulher e do homem
a marca há de não se desfazer
ainda que acabe o amor
a jura não promete a companhia eterna
promete a eterna companhia do amor
e só
se amor não mais há
corpos não mais se atrairão
e tristeza é só o que se poderá ver
sofre o corpo preso a outro corpo
esses que desfeitos um do outro
permitem o vôo livre do amor saído da jaula do domador
que se também livre está e ponto:
a jura não se mais fará até que a morte do corpo se faça
mas até que o amor dito eterno se desfaça
no altar a jura eterna
a sempiterna jura de um amor
somente a morte é o que os poderá separar
a promessa é feita à alma
da mulher e do homem
a marca há de não se desfazer
ainda que acabe o amor
a jura não promete a companhia eterna
promete a eterna companhia do amor
e só
se amor não mais há
corpos não mais se atrairão
e tristeza é só o que se poderá ver
sofre o corpo preso a outro corpo
esses que desfeitos um do outro
permitem o vôo livre do amor saído da jaula do domador
que se também livre está e ponto:
a jura não se mais fará até que a morte do corpo se faça
mas até que o amor dito eterno se desfaça
sábado, 10 de maio de 2008
Pego-me posto, de repente
pego-me posto, de repente
nesta tão antiga e velha jaula
onde esta minha alma
vive tão presa, assim
sofro encolhido nesta masmorra
minha vida fora lançada à sorte
põe-se mais perto do outono minha morte
e nenhuma fruta vermelha aportou em mim
ah, viver aqui e não viver aí
onde meu passo é raso e não, nunca
(vive) o ser que mesmo sem saber não se pergunta
se é um anjo antigo, um deus morto, um querubim
à toa chuto meu chão, meu pisar, meu fel
mas nem eu me encontro quando me procuro;
sou aquela vespa posta atrás do verde muro
que impede que eu veja um triste fim?
sábado, 3 de maio de 2008
Criação
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Triste fim, as grandes partidas
triste fim, as grandes partidas
corroem-me a alma, tudo em mim
as dores, lágrimas paridas
fogem-me de meu amor ruim
amo-me tanto, e os sonhos
resquícios de minha infância
sufocam-me nos escombros
de minha fiel intemperança
deixo-me nos pontos, as vírgulas
separam o que fui do que serei;
as idéias do que sou são ridículas:
idéias de ser o que só eu sei
há no tempo úmido o gesto
a forma singular do meu mundo;
transmuto-me num incesto:
não sou mais o de há um segundo
corroem-me a alma, tudo em mim
as dores, lágrimas paridas
fogem-me de meu amor ruim
amo-me tanto, e os sonhos
resquícios de minha infância
sufocam-me nos escombros
de minha fiel intemperança
deixo-me nos pontos, as vírgulas
separam o que fui do que serei;
as idéias do que sou são ridículas:
idéias de ser o que só eu sei
há no tempo úmido o gesto
a forma singular do meu mundo;
transmuto-me num incesto:
não sou mais o de há um segundo
terça-feira, 29 de abril de 2008
Salmodia
“Javé o guarda e o mantém vivo para que ele seja feliz na terra” (Sl. 41,3)
medito sem parar, horas a fio
o gesto doce, mas triste e calmo
escondido no recitar do salmo
que enche de lágrimas meu rio
e o rio de lágrimas do salmista
reflete sua mais sincera dor
por não poder ter seu amor
na terra de onde tanto dista
a terra sagrada dada por Deus
é a terra donde corre leite e mel
mas na sua dor corre apenas fel
por não poder estar perto dos seus
confundem-se meu rio com o do poeta
que pôs em cada versículo a saudade
sentida tanto desde a mocidade
vivida longe de sua amada terra
e o rio de lágrimas deste triste ser
que sou, longe de meus amados
põe-me a expressar gestos fadados
quase como sem poder viver
mas, mesmo triste e magoado vivo
e encontro nos clamores do salmista
a felicidade que ainda se testifica
ao encontrar sempre Deus consigo
medito sem parar, horas a fio
o gesto doce, mas triste e calmo
escondido no recitar do salmo
que enche de lágrimas meu rio
e o rio de lágrimas do salmista
reflete sua mais sincera dor
por não poder ter seu amor
na terra de onde tanto dista
a terra sagrada dada por Deus
é a terra donde corre leite e mel
mas na sua dor corre apenas fel
por não poder estar perto dos seus
confundem-se meu rio com o do poeta
que pôs em cada versículo a saudade
sentida tanto desde a mocidade
vivida longe de sua amada terra
e o rio de lágrimas deste triste ser
que sou, longe de meus amados
põe-me a expressar gestos fadados
quase como sem poder viver
mas, mesmo triste e magoado vivo
e encontro nos clamores do salmista
a felicidade que ainda se testifica
ao encontrar sempre Deus consigo
domingo, 27 de abril de 2008
Pensamento em verso
penso como quem não quer pensar;
em meu quarto branco, secamente
estão meus pensamentos, grávidos e reticentes
transformados em versos pra se mostrar
minhas idéias são dignas de anotar?
pergunto-me ansioso, com o receio
de que o pobre verso que me veio
vá minha escrivaninha amarrotar
que amarrote esse percurso sem nexo
desse pobre que vomita bem ao meio
da folha alva, límpida, onde semeio
como quem ejacula ao “fazer” sexo
se forem dignos de anotar, quem vai dizer?
preocupo-me em semear e semear
na virgem página desejosa por experimentar
o melhor sexo que eu sei fazer
Publicado na Antologia Cidade. Belém: 2009, Vol. II.
em meu quarto branco, secamente
estão meus pensamentos, grávidos e reticentes
transformados em versos pra se mostrar
minhas idéias são dignas de anotar?
pergunto-me ansioso, com o receio
de que o pobre verso que me veio
vá minha escrivaninha amarrotar
que amarrote esse percurso sem nexo
desse pobre que vomita bem ao meio
da folha alva, límpida, onde semeio
como quem ejacula ao “fazer” sexo
se forem dignos de anotar, quem vai dizer?
preocupo-me em semear e semear
na virgem página desejosa por experimentar
o melhor sexo que eu sei fazer
Publicado na Antologia Cidade. Belém: 2009, Vol. II.
Todos os sentimentos
tenho todos os sentimentos do mundo
guardados aqui nesse pobre peito
e quando sob a noite deito
retomo-os todos num só segundo
sinto tudo o que é possível sentir
de dor a alegria; de saudade a amor;
o que há de mais terrível sendo o temor
de ser capaz de tanto, antes de dormir?
e antes de dormir sou o maior dos homens
e sou o mais frágil também, me creiam
os meus sentimentos são fortes, mas receiam
serem esmagados por um mistério sem nome
e esse mistério tão aterrorizador, talvez
seja eu mesmo, dentro das tantas dúvidas que me tomam
formadas com todas as dores que se assomam
dando nesse pária dum jogo de xadrez
e do jogo de xadrez sou o mais frágil
escondo-me atrás dos bispos e do rei
fugindo do medo que só eu sei
por serem capazes de me revelar tão ágil
e o mais ágil dos ágeis sou eu
quando acordo; levanto-me e ponho-me a oferecer
o melhor de mim, o que só eu sei fazer
até descobrir onde minh´alma na noite se perdeu
e se se perdeu eu logo a encontro
por dentre meus nervos e pensamentos
e lá escondidinha num pó cinzento
retomo-a e vamos ao melhor do conto
e, assim, jogo os dias que inda me restam:
nas manhãs sou forte, único e tão amável
e nas noites sou tão perdido, duvidoso e frágil:
o homem de todos os sentimentos que se versam
quarta-feira, 19 de março de 2008
domingo, 9 de março de 2008
Pesadelo
tenho tudo
no nada
inspiro doce
frio
da madrugada
tenho tudo
da amada
transpiro a tosse
desvio
da nAMORada
no nada
inspiro doce
frio
da madrugada
tenho tudo
da amada
transpiro a tosse
desvio
da nAMORada
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Roubei da vida
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Mendigo
mendigo
vida
implorando às almas
nas avenidas
rejeito
morte
recusando um não
como sorte
Publicado nos Cadernos Literários da Pragmatha Nº 16
Porto Alegre-RS Junho de 2009!
vida
implorando às almas
nas avenidas
rejeito
morte
recusando um não
como sorte
Publicado nos Cadernos Literários da Pragmatha Nº 16
Porto Alegre-RS Junho de 2009!
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Ofício
tão fácil
quanto difícil
é a vida
engrenada na labuta
do ofício
Cadernos Literários da Editora Pragmatha.
Ano 01. Número 17, Porto Alegre-RS, Junho de 2009, p.40.
quanto difícil
é a vida
engrenada na labuta
do ofício
Cadernos Literários da Editora Pragmatha.
Ano 01. Número 17, Porto Alegre-RS, Junho de 2009, p.40.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Cicatrizo o ponto
Poema publicado no:
"Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea", Rio de Janeiro: CBJE/BrLETRAS, 2009, p.46, ISBN: 978-85-7810-430-6, http://www.camarabrasileira.com/ouro09-025.htm
Poema publicado também no: "Cadernos Canoenses", Canoas: Tróis Editor, junho de 2009, p.4.
cicatrizo o ponto
cuspindo na hora
tossindo no mundo:
pensando...
encerro a tristeza
acariciando a lágrima
beijando a dor:
amando...
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Entranhamento
Poema exposto na Biblioteca Comunitária da UFSCar,
durante o XI Encontro de Poetas de São Carlos-SP, 15 de Março de 2008, http://www2.ufscar.br/servicos/noticias.php?idNot=1657
sou homem pequeno
pequeno espaço
passo ameno
refaço
o ciclo eterno sem asas:
renasço
sou palavra-poema
poema nasço
nessa vida pequena
enlaço
a voz tenra que escorre e vai:
num tímido titubear de versos...
durante o XI Encontro de Poetas de São Carlos-SP, 15 de Março de 2008, http://www2.ufscar.br/servicos/noticias.php?idNot=1657
sou homem pequeno
pequeno espaço
passo ameno
refaço
o ciclo eterno sem asas:
renasço
sou palavra-poema
poema nasço
nessa vida pequena
enlaço
a voz tenra que escorre e vai:
num tímido titubear de versos...
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Ego
há os que falam do coração:
falam o que sabem
sabem saber
há os que falam da cabeça:
falam o que pensam
pensam que sabem
falar o saber
há, por fim, os que falam do ego
e no ego não há nada
que se possa pensar, falar e saber
falam o que sabem
sabem saber
há os que falam da cabeça:
falam o que pensam
pensam que sabem
falar o saber
há, por fim, os que falam do ego
e no ego não há nada
que se possa pensar, falar e saber
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Vôo
perdi minhas asas
num vôo qualquer
no fundo branco
sob as palavras
que escrevi atento
como quem tudo quer
mas que nada tem
senão o contentamento
presenteado pelo verso
cuspido com gosto
suado com toda a vida
de meu ser na solidão imerso
num vôo qualquer
no fundo branco
sob as palavras
que escrevi atento
como quem tudo quer
mas que nada tem
senão o contentamento
presenteado pelo verso
cuspido com gosto
suado com toda a vida
de meu ser na solidão imerso
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Caminhar
Caminhamos, sabendo vez e outra
onde queremos ir, e vamos.
Vez e outra sabemos dos cursos
percursos e percalços da estrada.
Estradeamos, arrastando-nos sobre pedras afiadas
e respiramos o pó sacudido por nossos próprios passos.
Passamos, e a estrada põe-se agarrada às pedras
(como uma mãe se agarra ao filho recém-nascido):
o caminho morre sufocado pelas crateras
do sol-chuva que não se intimida.
As marcas da estrada caminham conosco
agarradas em nossas pernas, braços, rostos
lacrimejando na pele ressequida
pelo sol impiedoso que nos abrasa, nos arrasa
até o fim do percurso
onde a experiência ímpar do caminhar
vale muito mais que o fruto passageiro
do obstáculo vencido.
onde queremos ir, e vamos.
Vez e outra sabemos dos cursos
percursos e percalços da estrada.
Estradeamos, arrastando-nos sobre pedras afiadas
e respiramos o pó sacudido por nossos próprios passos.
Passamos, e a estrada põe-se agarrada às pedras
(como uma mãe se agarra ao filho recém-nascido):
o caminho morre sufocado pelas crateras
do sol-chuva que não se intimida.
As marcas da estrada caminham conosco
agarradas em nossas pernas, braços, rostos
lacrimejando na pele ressequida
pelo sol impiedoso que nos abrasa, nos arrasa
até o fim do percurso
onde a experiência ímpar do caminhar
vale muito mais que o fruto passageiro
do obstáculo vencido.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Algum lugar ao longe
algum lugar ao longe
leva um pouquinho de mim
pedaço do eu que se esconde
além do tempo ruim
vou às alturas depois de descoberta
a distância entre o que passa e o que fica
nesse meu ser que cedo ou tarde desperta
gota de alma que me explica
tão alto vôo é o que faço
que o medo do infinito não reluta
no giro eterno onde renasço
porção de loucura que me transmuta
Selecionado no Concurso:
Poemas no ônibus 16ª Edição e no trem
4ª Edição, Porto Alegre-RS, SMC/RJH, 2007/2008, p.34.
Em circulação pelos ônibus e trens de Porto Alegre em 2008/2009.
leva um pouquinho de mim
pedaço do eu que se esconde
além do tempo ruim
vou às alturas depois de descoberta
a distância entre o que passa e o que fica
nesse meu ser que cedo ou tarde desperta
gota de alma que me explica
tão alto vôo é o que faço
que o medo do infinito não reluta
no giro eterno onde renasço
porção de loucura que me transmuta
Selecionado no Concurso:
Poemas no ônibus 16ª Edição e no trem
4ª Edição, Porto Alegre-RS, SMC/RJH, 2007/2008, p.34.
Em circulação pelos ônibus e trens de Porto Alegre em 2008/2009.
domingo, 21 de outubro de 2007
Irmã Morte
(lembrando a pessoalidade de Florbela Espanca)
sinto tanto tua ausência, quem dera um dia
poder gritar mais alto que o grito forte
devolver pra ti o que é teu, a agonia
que te quebrastes a cabeça, e te fizeste morte
é a própria morte minha irmã
carrego-a comigo, e nossas responsabilidades;
é o meu destino, cada manhã
dessa vida dura de castidade
ah, que saudades de brincar contigo
é o choro de tua morte o meu amigo
a acompanhar-me em minhas jornadas
a intensidade da dor de teu umbigo
liga-te irmã morte, comigo:
havemos de caminhar almas caladas
sinto tanto tua ausência, quem dera um dia
poder gritar mais alto que o grito forte
devolver pra ti o que é teu, a agonia
que te quebrastes a cabeça, e te fizeste morte
é a própria morte minha irmã
carrego-a comigo, e nossas responsabilidades;
é o meu destino, cada manhã
dessa vida dura de castidade
ah, que saudades de brincar contigo
é o choro de tua morte o meu amigo
a acompanhar-me em minhas jornadas
a intensidade da dor de teu umbigo
liga-te irmã morte, comigo:
havemos de caminhar almas caladas
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Éschaton
emana sete dias de meu peito;
são sete loucuras
sete ruínas
sete desgraças
sete injúrias
sete perguntas
sete horas
sete inquietações
sete silêncios
sete gemidos
sete clamores
sete arrependimentos
sete minutos
sete lembranças
sete saudades
sete suspiros
sete preces
sete perdões
sete lágrimas
sete gritos
sete segundos
sete palmos de terra...
sou defunto
são sete loucuras
sete ruínas
sete desgraças
sete injúrias
sete perguntas
sete horas
sete inquietações
sete silêncios
sete gemidos
sete clamores
sete arrependimentos
sete minutos
sete lembranças
sete saudades
sete suspiros
sete preces
sete perdões
sete lágrimas
sete gritos
sete segundos
sete palmos de terra...
sou defunto
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Viagem
viajamos juntos à eternidade
de nosso olhar;
perdi-me em vil serenidade:
desejo louco
de te mais que amar
teu corpo magro e alto
- mais que meu sonho -
escapava de meu desejo incauto
nos segundos sem fim
daquele tempo enfadonho
a água verde da laguna
prateada
derramava-se em agonia, sem alguma
racionalidade que nos fizesse
amar sem nada
tua resistência em não me querer
fazer companhia
fadava-me ao te ler
e eu, sem querer que nada dissesses
nada mo disse, apenas mo lia
lias-me como quem nada lia;
como quem nada amasse.
Era eu o teu pedaço róseo de agonia
derramado às areias de Laguna
à procura de respostas sem que nada mo perguntasse
em tamanho desterro, chegamos a nosso destino...
Eu, ainda, mais que proponho
deixar-me num papel, um louco menino
que no resvalar do ônibus, na estrada
descobre o fim de tudo... Era um sonho
de nosso olhar;
perdi-me em vil serenidade:
desejo louco
de te mais que amar
teu corpo magro e alto
- mais que meu sonho -
escapava de meu desejo incauto
nos segundos sem fim
daquele tempo enfadonho
a água verde da laguna
prateada
derramava-se em agonia, sem alguma
racionalidade que nos fizesse
amar sem nada
tua resistência em não me querer
fazer companhia
fadava-me ao te ler
e eu, sem querer que nada dissesses
nada mo disse, apenas mo lia
lias-me como quem nada lia;
como quem nada amasse.
Era eu o teu pedaço róseo de agonia
derramado às areias de Laguna
à procura de respostas sem que nada mo perguntasse
em tamanho desterro, chegamos a nosso destino...
Eu, ainda, mais que proponho
deixar-me num papel, um louco menino
que no resvalar do ônibus, na estrada
descobre o fim de tudo... Era um sonho
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Expectativas
do jardim do Éden
quero as rosas
para estraçalhar-lhes as pétalas
e oferecer o sumo
aos deuses
dos deuses
quero o poder
de perpetuar-me nos inconscientes humanos
sem ser
o que a oração reza
da reza,
quero a sede dos devotos
para remover do coração
o ceticismo
que me consola
para meu consolo
quero dias
até descobrir se acabará o mundo
nas romarias
ou em igrejas esfumaçadas
quero as rosas
para estraçalhar-lhes as pétalas
e oferecer o sumo
aos deuses
dos deuses
quero o poder
de perpetuar-me nos inconscientes humanos
sem ser
o que a oração reza
da reza,
quero a sede dos devotos
para remover do coração
o ceticismo
que me consola
para meu consolo
quero dias
até descobrir se acabará o mundo
nas romarias
ou em igrejas esfumaçadas
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Canastra
corpos
quatro deles
perplexos
entreolham-se.
Esquecendo-se do mundo
desaparecem na cartada
e no olhar desconfiado
do mais experiente.
Já não recordam do trabalho
da vida dura
dos problemas
dos meninos
da igreja;
perdem-se nas lembranças
da infância adolescente
dos jogos cúmplices
dos roubos e dos olhares
da vitória suada
seguida de piscadas sorrateiras
quatro deles
perplexos
entreolham-se.
Esquecendo-se do mundo
desaparecem na cartada
e no olhar desconfiado
do mais experiente.
Já não recordam do trabalho
da vida dura
dos problemas
dos meninos
da igreja;
perdem-se nas lembranças
da infância adolescente
dos jogos cúmplices
dos roubos e dos olhares
da vitória suada
seguida de piscadas sorrateiras
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Tentações
trago na ideologia corroída pelo tempo
o desejo de saciedade da sociedade
tomada de mediocridade
e burrice
trago nos traços de velhice
a alegria - certeza do acerto -
e a frustração
mais forte que o apreço
pela verdade
trago na humana fragilidade
a ambição, desejo de ser grande:
sou tão ínfimo
que me corromper parece valer a pena....
pobre alma pequena
o desejo de saciedade da sociedade
tomada de mediocridade
e burrice
trago nos traços de velhice
a alegria - certeza do acerto -
e a frustração
mais forte que o apreço
pela verdade
trago na humana fragilidade
a ambição, desejo de ser grande:
sou tão ínfimo
que me corromper parece valer a pena....
pobre alma pequena
Soneto da dor
Publicado no Livro "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos", Rio de Janeiro:
CBJE, 2007, 39º Volume, p.42, ISBN: 978-85-60489-27-5
oh Dor, face adiada da alegria
Hermes mensageiro da morte
caístes sempre no coração que não queria
a separação eterna, a solidão tão forte
vens tão rápida feita vulto
pondo-se a alimentar sua fome profana
presenteando, onde pisas, com o luto
alimentando-se da tristeza humana
escorregam da velhice dos rostos
tua filhas paridas, tua fertilidade
como lágrimas a reinar em toda idade
oh terrível dor, ris-se frente aos mortos;
o ser humano por tanto amar, não te ama
antes, te quer fumaça, passado, morta chama
sábado, 29 de setembro de 2007
Março
mais um março
mais um maço
desses dias-a-dias
de dores nas juntas
e cansaço
passo
impunhando mais um passo
nas ruas das agonias
das loucuras injuriosas
e faço...
março em maço
gestando passos de cansaço:
ingenuamente passo
dias-a-dias de março em cansaço
Publicado no livro "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos", Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 36º Volume, p.46, ISBN: 978-85-60489-27-5
Soneto de Definição
eu sou aquele que sobre as manhãs levanta
e junta sob sua depressiva cama
o pedaço que dormiu procurando a quem o ama
encontrando-o tão frio que mesmo à morte espanta!
sou o que antes de dormir sonhou:
tudo era tão lindo, beleza, encanto...
mas de súbito se derrete em prantos
adormecido, com a morte se casou
aquele sou eu... vivo tão sem sorte
- sem saber se existe mesmo esse tal norte -
caminhando pela estrada do avesso
sou aquele peregrino do deserto
que sem saber existir um rumo certo
busca na estrada, o recomeço
Publicado no livro:
I Antologia Internacional de Poesias "Mares diversos, Mar de Versos",
Rio de Janeiro: Mar de idéias, 2007, p.53, ISBN: 978-85-61010-03-4
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Extremos
(Fujo dos extremos como o “diabo foge da cruz”)
sou puro
feito de matéria
rara
rosto celeste
cabeça de Deus
(o Ideal me sustenta)
pele de anjo
sou nulo
feito de matéria
vaga
rosto confuso
cabeça doída
(o sol me mata)
pele de bicho
sou sonho
feito de matéria
decente
rosto de gente
cabeça de homem
(como quem tem vida)
pele sadia
sou puro
feito de matéria
rara
rosto celeste
cabeça de Deus
(o Ideal me sustenta)
pele de anjo
sou nulo
feito de matéria
vaga
rosto confuso
cabeça doída
(o sol me mata)
pele de bicho
sou sonho
feito de matéria
decente
rosto de gente
cabeça de homem
(como quem tem vida)
pele sadia
sábado, 15 de setembro de 2007
A capa falsa da mentira
ouvi muitas vezes:
mentira bem contada
e repetida com insistência
costuma tornar-se verdade.
Também ouvi:
ato errado
realizado sem testemunha
é legítimo:
quem poderá provar a leviandade?
os políticos mentem, creio (mais) agora
(ainda mais
se a verdade lhes custar
as tetas
de onde sugam
o leite
pago pelo suor
do cidadão honesto)
as teorias mentem, creio agora.
Tudo mente
até o ditado:
“a mentira tem pernas curtas”;
o pior de tudo
é que essa vadia
tem pernas longas
e corre muito
pondo-se escondida
sob os palanques
das próximas campanhas eleitorais
onde já não existe memória
e a “verdade” reina livre
estou convicto:
a retórica insistente
é mãe de toda mentira
descarada
(agradeço aos senadores brasileiros
a ajuda para que eu pudesse concluir isso)
a mentira tem pernas longas e corre
mas um dia haverá de cansar
e a verdade aparecerá
sobre as capas falsas
(estampadas na face dos cínicos)
que a mentira apelidou de honestidade
mentira bem contada
e repetida com insistência
costuma tornar-se verdade.
Também ouvi:
ato errado
realizado sem testemunha
é legítimo:
quem poderá provar a leviandade?
os políticos mentem, creio (mais) agora
(ainda mais
se a verdade lhes custar
as tetas
de onde sugam
o leite
pago pelo suor
do cidadão honesto)
as teorias mentem, creio agora.
Tudo mente
até o ditado:
“a mentira tem pernas curtas”;
o pior de tudo
é que essa vadia
tem pernas longas
e corre muito
pondo-se escondida
sob os palanques
das próximas campanhas eleitorais
onde já não existe memória
e a “verdade” reina livre
estou convicto:
a retórica insistente
é mãe de toda mentira
descarada
(agradeço aos senadores brasileiros
a ajuda para que eu pudesse concluir isso)
a mentira tem pernas longas e corre
mas um dia haverá de cansar
e a verdade aparecerá
sobre as capas falsas
(estampadas na face dos cínicos)
que a mentira apelidou de honestidade
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Uruará
(Lembrando o aniversário desse cantinho do PARÁiso em 13/09/2007)
vou
rápido
para não deixar
rastro:
o berço
me chama
a dor
em mim
não cala
a saudade
inflama
a lembrança
da cidade
que me deu seio
e que meu peito ama
derramarei
flores
no cesto
de sua alma
onde perpetua
a voz que clama
o retorno
dos pródigos filhos
à terra que lhes ama
Publicado no Livro: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 40º Volume, p.34, ISBN: 978-85-60489-27-5.
vou
rápido
para não deixar
rastro:
o berço
me chama
a dor
em mim
não cala
a saudade
inflama
a lembrança
da cidade
que me deu seio
e que meu peito ama
derramarei
flores
no cesto
de sua alma
onde perpetua
a voz que clama
o retorno
dos pródigos filhos
à terra que lhes ama
Publicado no Livro: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 40º Volume, p.34, ISBN: 978-85-60489-27-5.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Questão de Fé
gritam os sinos
ouço o desespero do badalo
a pressa dos anjos
a lentidão das horas
dispersa-se no tempo
a dúvida, teimosa agonia:
subir degraus, beijar Maria?
cuspir orações como escarro
as almas não animam a hora
nem os santos meu dia...
a reza cansa:
o eco insiste
a dúvida persiste
o santo espera
a vela morre
a chama apaga
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE/BrLetras, 2007, 37º Volume, p.41, ISBN: 978-85-60489-27-5
Publicado também no livro: Panorama Literário Brasileiro 2007/2008: As melhores poesias de 2007. Rio de Janeiro, CBJE/BrLetras, p.147, ISBN: 978-85-7810-073-5
Piada pra Deus
subi os montes
pernas pequenas
passos miúdos
respiração amena
toquei o céu
pedi bênção a Deus
caí no mundo
jogado ao léu
perdi-me nos dias
a amar as horas
cantando salmos
nas romarias
voltei à estrada
escalei os montes
abri as nuvens
e contei piada pra Deus
pernas pequenas
passos miúdos
respiração amena
toquei o céu
pedi bênção a Deus
caí no mundo
jogado ao léu
perdi-me nos dias
a amar as horas
cantando salmos
nas romarias
voltei à estrada
escalei os montes
abri as nuvens
e contei piada pra Deus
Segundo
roda mundo
gira tudo
contra todos
os minutos
passageiros
do profundo:
peregrino
importuno
a entreter
a razão
num milésimo
de segundo
gira tudo
contra todos
os minutos
passageiros
do profundo:
peregrino
importuno
a entreter
a razão
num milésimo
de segundo
Prece
(lembrando a pessoalidade de Fernando Pessoa)
pus-me ajoelhado
curvado ao Sumo Bem,
- o Deus dos cristãos -
que atende os pedidos, calado
se alguém os têm
invoquei-lhe em prece:
ó Deus misericórdia
Deus-amor
Deus-compaixão
traz para perto de mim
o cálice (não o outro cálice)
pra que eu beba, e porre
sinta o fartio da solidão que me vem
pus-me ajoelhado
curvado ao Sumo Bem,
- o Deus dos cristãos -
que atende os pedidos, calado
se alguém os têm
invoquei-lhe em prece:
ó Deus misericórdia
Deus-amor
Deus-compaixão
traz para perto de mim
o cálice (não o outro cálice)
pra que eu beba, e porre
sinta o fartio da solidão que me vem
Culto
submisso
ao tempo
ajoelhado
presto-lhe culto
embora resista
às Ave-Marias
oferecidas
aos dias vagos
que a razão
dispensa:
sou mais fiel
que a crença
em milagre
sem osso
ao tempo
ajoelhado
presto-lhe culto
embora resista
às Ave-Marias
oferecidas
aos dias vagos
que a razão
dispensa:
sou mais fiel
que a crença
em milagre
sem osso
Canto
canto
do mau
tempo
o pranto
grito
tão alto
quanto o eco
mais estridente
e afugentado
do canto
de minha alma:
espremido
no canto
do mundo
conto os dias
do mau
tempo
o pranto
grito
tão alto
quanto o eco
mais estridente
e afugentado
do canto
de minha alma:
espremido
no canto
do mundo
conto os dias
Contra toda solidão
a rosa escancarada grita!
assustada treme
geme o medo
freme
o pudor do pólen que a excita
bendita é a voz que chama
pondo-se a estontear a razão
absoluta por querer
derramar-se em paixão...
essa coisa louca, eterna trama
feliz é todo coração que ama
e que antes de amar
sabe saber...
esforçar-se por calar
a estupidez da solidão que no vago se derrama
Publicado no:
Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2007, p.47, ISBN: 978-85-60489-27-5
assustada treme
geme o medo
freme
o pudor do pólen que a excita
bendita é a voz que chama
pondo-se a estontear a razão
absoluta por querer
derramar-se em paixão...
essa coisa louca, eterna trama
feliz é todo coração que ama
e que antes de amar
sabe saber...
esforçar-se por calar
a estupidez da solidão que no vago se derrama
Publicado no:
Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2007, p.47, ISBN: 978-85-60489-27-5
sábado, 8 de setembro de 2007
Pedacinho de céu
Quanta saudade de teu riso
e da tua voz criança
chamando: “tio Bergue”!
Ah! Tê-la aqui a me fazer pequeno!
Voltar à infância me prestaria,
como sempre faço
quando contigo estou.
(Sem você) Os meus dias são tão longos,
mesmo em tão poucas horas...
É que a ânsia de estar contigo
(levá-la à pracinha de Uruará;
pô-la no mundo da fantasia;
fazê-la deslizar no escorregador de sonhos;
vê-la flutuar naquele balanço vermelho),
faz-me maior que minha paciência.
Queria estar perto de ti
meu pedacinho de céu de três anos
para ouvir a suavidade da inocência criança
fazendo-se voz pela tua boca.
A expressão máxima do mundo,
sem dor ou maldade, vejo em teus olhos,
mas sou eu que carrego
a dor da saudade que existe em mim.
Publicado no livro:
Poemas Dedicados,
CBJE, RJ, 2007
e da tua voz criança
chamando: “tio Bergue”!
Ah! Tê-la aqui a me fazer pequeno!
Voltar à infância me prestaria,
como sempre faço
quando contigo estou.
(Sem você) Os meus dias são tão longos,
mesmo em tão poucas horas...
É que a ânsia de estar contigo
(levá-la à pracinha de Uruará;
pô-la no mundo da fantasia;
fazê-la deslizar no escorregador de sonhos;
vê-la flutuar naquele balanço vermelho),
faz-me maior que minha paciência.
Queria estar perto de ti
meu pedacinho de céu de três anos
para ouvir a suavidade da inocência criança
fazendo-se voz pela tua boca.
A expressão máxima do mundo,
sem dor ou maldade, vejo em teus olhos,
mas sou eu que carrego
a dor da saudade que existe em mim.
Publicado no livro:
Poemas Dedicados,
CBJE, RJ, 2007
A Mor Te
A
Mor
Te
Amo
A mor te
Amo
Amo-te amor
E toma-me amor
Toma-me a morte
Amo
Amo-te
E toma
Amo-te
A mor te
Amo
Formato Original:
http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdeamor/208327
Publicado no livro:
I Antologia Internacional de Poesias "Mares diversos, Mar de Versos",
Rio de Janeiro: Mar de idéias, 2007, p.54, ISBN: 978-85-61010-03-4
Publicado em:
Caderno Literário nº 15, abril de 2009;
Tema "AMOR". Ed. Pragmatha, Porto Alegre - RS.
Complacência
preso e livre entre quatro portas
donde vem o vento frio angustido,
aonde vai meu espírito imbuído
pelas ruas brancas de gentes tortas
vai e caminha além-vida
tropeça nas dores de um choro rouco
dum homem mais que livre e louco
por quem a esperança mais garrida
o tempo em ser tempo... um caduco
no caminho à dor explícita do mendigo
é um espelho? mas parece comigo
sobrevivo na luta em disfarçar-me eunuco
esvai-se estúpido em relento, o ideal frio
a palavra vã do mais que louco espanto
é grito covarde, amando em acalanto...
aonde vai? Ao meu e teu olhar sombrio
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
donde vem o vento frio angustido,
aonde vai meu espírito imbuído
pelas ruas brancas de gentes tortas
vai e caminha além-vida
tropeça nas dores de um choro rouco
dum homem mais que livre e louco
por quem a esperança mais garrida
o tempo em ser tempo... um caduco
no caminho à dor explícita do mendigo
é um espelho? mas parece comigo
sobrevivo na luta em disfarçar-me eunuco
esvai-se estúpido em relento, o ideal frio
a palavra vã do mais que louco espanto
é grito covarde, amando em acalanto...
aonde vai? Ao meu e teu olhar sombrio
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
Anjo Antigo
eu era filho de inocência pura
como flor sensível à luz do sol que queima
mergulhei no desconhecido e tornei-me eu
em busca débil de tornar-me infinito
de grito em grito colhi flores
colhi-me em mim mesmo
embelezei o turvo do desconhecido
iluminei-me em certezas e desejos
bastei-me de ser o que não era...
minha quimera exaurida em dúvidas
anjo puro, guardião de verdades sãs
completei-me de buscas em quimeras
tais quais verdades crentes, lúcidas
em verdades cruas, elucidativas, pagãs
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
como flor sensível à luz do sol que queima
mergulhei no desconhecido e tornei-me eu
em busca débil de tornar-me infinito
de grito em grito colhi flores
colhi-me em mim mesmo
embelezei o turvo do desconhecido
iluminei-me em certezas e desejos
bastei-me de ser o que não era...
minha quimera exaurida em dúvidas
anjo puro, guardião de verdades sãs
completei-me de buscas em quimeras
tais quais verdades crentes, lúcidas
em verdades cruas, elucidativas, pagãs
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
Clamor
dá-me caminho, casa, existir
dá-me ser, compreender...
tua dureza humana
rígida
sobrevivo aqui
nula existência;
vagabundo me proclamas
vagamundo sou...
feito pobre, tão pequenininho
jogado ao mundo
sob o burburinho
dos xingões e ira de teu desprezo
ah, ter casa e não viver aí
sob os trapos de tua rejeição;
faz tanto frio
sobre a calçada:
relva de minha extinção
pedra sou
lixo em seu caminho;
nem cachorro me resta ser
(ah! ser um), vivo sozinho...
Sem desfrutar a ração que os teus cães comem
ah, ser gente, a ser nada...
homem duro, sem coração;
pisas-me os braços
e chutas-me a cabeça
mas dar-me as mãos e me levantar que é bom
não passa por tua inteligência humana negligenciada
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
CBJE, RJ, 38º Volume.
dá-me ser, compreender...
tua dureza humana
rígida
sobrevivo aqui
nula existência;
vagabundo me proclamas
vagamundo sou...
feito pobre, tão pequenininho
jogado ao mundo
sob o burburinho
dos xingões e ira de teu desprezo
ah, ter casa e não viver aí
sob os trapos de tua rejeição;
faz tanto frio
sobre a calçada:
relva de minha extinção
pedra sou
lixo em seu caminho;
nem cachorro me resta ser
(ah! ser um), vivo sozinho...
Sem desfrutar a ração que os teus cães comem
ah, ser gente, a ser nada...
homem duro, sem coração;
pisas-me os braços
e chutas-me a cabeça
mas dar-me as mãos e me levantar que é bom
não passa por tua inteligência humana negligenciada
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
CBJE, RJ, 38º Volume.
Inspiração
sentei-me sobre meu leito
e de súbito, abraçado ao violão
quedei-me a esperar as atordoadas tramas
o que chamo inspiração
não veio nem o azul, o claro, o verde
a letra, a raiva, a calmaria
não veio na nota, o susto, o horror
nem o sentimento que me abarcaria
nem a imagem veio, a beleza do rosto
a pele sensível que me abrazaria
o toque dos lábios, suave doce
da boca louca que me beijaria
o sentir eterno não veio
o gosto agridoce não apareceu
o poema, filhote caseiro
abortou-me e a poesia morreu
e de súbito, abraçado ao violão
quedei-me a esperar as atordoadas tramas
o que chamo inspiração
não veio nem o azul, o claro, o verde
a letra, a raiva, a calmaria
não veio na nota, o susto, o horror
nem o sentimento que me abarcaria
nem a imagem veio, a beleza do rosto
a pele sensível que me abrazaria
o toque dos lábios, suave doce
da boca louca que me beijaria
o sentir eterno não veio
o gosto agridoce não apareceu
o poema, filhote caseiro
abortou-me e a poesia morreu
Menino Danado
a banhar na chuva vivia
meu corpo magro, leve, esguio
em tão eterno momento sagrado
que a meu tempo devotava o frio
menino magrinho de olhos pretos
pedaço de sonho, de querer-se assim
tiquinho de timidez, pouquinho de encanto
do que é infinito e se eterniza, enfim
menino traquino, pedaço danado
vacante no mundo do além
a machucar as mãos, cortar os dedos
a viver preso tão como ninguém
meu corpo magro, leve, esguio
em tão eterno momento sagrado
que a meu tempo devotava o frio
menino magrinho de olhos pretos
pedaço de sonho, de querer-se assim
tiquinho de timidez, pouquinho de encanto
do que é infinito e se eterniza, enfim
menino traquino, pedaço danado
vacante no mundo do além
a machucar as mãos, cortar os dedos
a viver preso tão como ninguém
As Palavras
as palavras de tão cegas
fogem da ignorância
fugidias da lembrança
vão-se pra outras eras
donde retornam
tontas, a caberem nos ditados
nas expressões que se formam
dos sentimentos gerados
as palavras vão e voltam
como vão e voltam os seres
encontrando-se no verbo
as palavras se extraviam e morrem
mas ressuscitam, eternizando-se
na necessidade humana de comunicar
Porto Alegre - RS
22/08/2007
fogem da ignorância
fugidias da lembrança
vão-se pra outras eras
donde retornam
tontas, a caberem nos ditados
nas expressões que se formam
dos sentimentos gerados
as palavras vão e voltam
como vão e voltam os seres
encontrando-se no verbo
as palavras se extraviam e morrem
mas ressuscitam, eternizando-se
na necessidade humana de comunicar
Porto Alegre - RS
22/08/2007
A Larapia
(contraponto à poesia A Pátria, de Olavo Bilac)
odeia com afinco e desgosto, a terra em que nasceste
pobre, não verás nenhum país como este!
olha que céu! que lar! que brios! e que moléstia!
a natureza aqui, perpetuamente em sesta
é um rio de lama, a escorrer dos garimpos
vê como vida havia no chão! vê que vida habitava nos ninhos
que se balançam no ar, entremeados de insetos!
vê que cruz, que pavor, que multidão de inquietos!
vê as extensões de matas, onde impera
a serra raivosa e a eterna sorte dela!
boa terra! Jamais negou a quem lhe esmigalha
o tanto de mata que some, o motor que estraçalha
quem sem pôr suor a inunda e a empobrece
vê pago seu esforço, e feliz, enriquece!
pobre! não terás pão nenhum aqui neste
grita, por grandeza, na terra onde empobreceste
odeia com afinco e desgosto, a terra em que nasceste
pobre, não verás nenhum país como este!
olha que céu! que lar! que brios! e que moléstia!
a natureza aqui, perpetuamente em sesta
é um rio de lama, a escorrer dos garimpos
vê como vida havia no chão! vê que vida habitava nos ninhos
que se balançam no ar, entremeados de insetos!
vê que cruz, que pavor, que multidão de inquietos!
vê as extensões de matas, onde impera
a serra raivosa e a eterna sorte dela!
boa terra! Jamais negou a quem lhe esmigalha
o tanto de mata que some, o motor que estraçalha
quem sem pôr suor a inunda e a empobrece
vê pago seu esforço, e feliz, enriquece!
pobre! não terás pão nenhum aqui neste
grita, por grandeza, na terra onde empobreceste
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