sexta-feira, 27 de março de 2009

O Homem

o homem, esse covarde homem
bastardo da desordem e do descontentamento
filho das glórias do tormento
realidade que me tanto consome

pôs-se sobre minha alma, o ser
o bravio corpo que não conhece a razão
aquele homem-bicho sem noção
que usa da desonestidade pra viver

eu, como homem de coisas ralas
da sensibilidade de todo o ser
que não sou acostumado a viver
com a ignorância dessas toscas falas

pus-me homem sensível a observar
o que a dureza daquele pobre coração
tinha como grande e verdadeira razão
ao querer tanto me fazer calar

a desgraça da alma é a dor do homem
que mesmo dócil animal, se ferido
põe-se a esbravejar peito aguerrido
frente ao desespero e dor que lhe consome



eis que aquele duro humano de papel
não mais era que uma doce ferida
o gole bravo da tão forte bebida
que deixa-o sem razão, se imbuído em fel

todo grande homem é um pequeno ser
o engenho frágil de um Deus tão forte
que permite à sua criação conhecer a morte
sem que encontre a razão de viver

somos fadados a viver, e sofrer é o que resta
àqueles que não conhecem o clarão
e dispensam o doce hino em canção
que esvai-se da alma por uma fresta

grande e bendito seja todo o homem
que põe-se alma sempre amena
a fazer grande coisas tão pequenas
maiores que o medo da morte que lhe consome

segunda-feira, 23 de março de 2009

Frustração


http://www.camarabrasileira.com/pca09-014.htm
Publicado na Antologia "Poesia de Corpo & Alma", Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2009. ISBN: 978-85-7810-496-2

na solidão de teu seio
a razão do teu insulto:
“afaste-se diabo, tonto, feio
besta morta, alma tosca, vulto”

na ilusão de teu sonho
o teu amor astuto:
“abraça-me amante, lambe-me o seio
anjo tenro, amor eterno onde exulto”

na comunhão com teu receio
(ao que lhe digo) o ódio mútuo:
“abranda-me a alma, partida ao meio
por seu pobre amor sem fruto”


São Carlos – SP
03/04/2008

terça-feira, 17 de março de 2009

Até que a Morte os Separe

(até que a morte do amor os separe)


no altar a jura eterna
a sempiterna jura de um amor

somente a morte é o que os poderá separar

a promessa é feita à alma
da mulher e do homem
a marca há de não se desfazer
ainda que acabe o amor

a jura não promete a companhia eterna
promete a eterna companhia do amor
e só

se amor não mais há
corpos não mais se atrairão
e tristeza é só o que se poderá ver

sofre o corpo preso a outro corpo
esses que desfeitos um do outro
permitem o vôo livre do amor saído da jaula do domador
que se também livre está e ponto:
a jura não se mais fará até que a morte do corpo se faça
mas até que o amor dito eterno se desfaça