sábado, 29 de agosto de 2009

Sob o céu azul da Cidade Alegre


quisera eu não mais ver
o cotidiano da vida
sobre o qual reina confuso
o clamor do mendigo
a fugir dos améns da injustiça

esparramam-se ao chão as migalhas
dos pães, dos dias, da dor, do pretenso homem
sob o céu azul da Cidade Alegre
que transforma a exploração
em subversiva trama:
liberdade em lucro
lucro em fel
vida em lixo
lixo em céu

grita aos meus olhos
a dor da vida
no choro inocente da criança
a implorar o pão
da fome

Porto Alegre-RS, 12 de junho de 2007 (29/08/09)

sábado, 22 de agosto de 2009

Epitáfio

aplaudirei os versos
declamados à tumba
do poeta sem nome
do poeta sem cor
do poeta sem poesia
do poeta que não foi poeta
ao gosto daqueles que não entendem
que viver infinitamente
é não sucumbir à finitude da vida


José Heber de Souza Aguiar
São Carlos – SP em 13/02/2008

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Posmaturo

do que não mais nascia
surgiu o feto errante
esse meu verso perambulante
vomitado dum desejo que ardia

cedo ou tarde ele viria
assim que vem já se apresenta
ainda que frio logo esquenta
essa natureza poética vadia

e mesmo negando a verdade que queria
(essa coisa louca eterna trama
que em meu corpo se perde e se emana
alma em luto que os meus pecados contraia)

não poderá dominar a vontade perambulante
do caminhar solito de meu verso errante

Canoas - RS, 09/03/2009