quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Vôo

perdi minhas asas
num vôo qualquer
no fundo branco
sob as palavras
que escrevi atento
como quem tudo quer
mas que nada tem
senão o contentamento
presenteado pelo verso
cuspido com gosto
suado com toda a vida
de meu ser na solidão imerso

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Caminhar

Caminhamos, sabendo vez e outra
onde queremos ir, e vamos.
Vez e outra sabemos dos cursos
percursos e percalços da estrada.
Estradeamos, arrastando-nos sobre pedras afiadas
e respiramos o pó sacudido por nossos próprios passos.
Passamos, e a estrada põe-se agarrada às pedras
(como uma mãe se agarra ao filho recém-nascido):
o caminho morre sufocado pelas crateras
do sol-chuva que não se intimida.
As marcas da estrada caminham conosco
agarradas em nossas pernas, braços, rostos
lacrimejando na pele ressequida
pelo sol impiedoso que nos abrasa, nos arrasa
até o fim do percurso
onde a experiência ímpar do caminhar
vale muito mais que o fruto passageiro
do obstáculo vencido.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Algum lugar ao longe

algum lugar ao longe
leva um pouquinho de mim
pedaço do eu que se esconde
além do tempo ruim

vou às alturas depois de descoberta
a distância entre o que passa e o que fica
nesse meu ser que cedo ou tarde desperta
gota de alma que me explica

tão alto vôo é o que faço
que o medo do infinito não reluta
no giro eterno onde renasço
porção de loucura que me transmuta




Selecionado no Concurso:
Poemas no ônibus 16ª Edição e no trem
4ª Edição, Porto Alegre-RS
, SMC/RJH, 2007/2008, p.34.
Em circulação pelos ônibus e trens de Porto Alegre em 2008/2009.