segunda-feira, 24 de maio de 2021

Prometêico

queria poder apertar-te ao meu peito
para sentires o calor que me esquenta o corpo
à noite quando declino meu corpo 
em minha lúgubre cama e deito 

de tristeza e solidão é que sou feito
minha fragilidade intranquila expressa-se na cama
quando penso sem parar em ti, e, na própria cama 
durmo e sonho com teu meigo jeito 

meus sonhos são curtos e meu mundo estreito
acordo e penso que és a mais pura santa
vejo só em ti a pureza de uma santa
e peço a Deus perdão por meu infame desrespeito

nas noites melancólicas torno-me vulgar sujeito
perco-me na impureza de meu corpo num teu pensamento
fujo da minha moral, do meu pudor e do pensamento
que guardo de mim: sou, então, constantemente desfeito

como um limitado, não compreendo o efeito
de minha mudança como da água ao vinho
para esquecer o que sou deleito-me no vinho
só no dia seguinte é que outra vez me aceito

escondo o ser sensível que há em mim, sempre me enfeito 
pois ser fraco, frágil, mostrar como sou
expressar-me nessa vida não posso, e o que sou 
fica na ingenuidade de quem me tem por perfeito

viver entre a vagina e a cruz é o que rejeito
de um dilema moral é que sou constituído
e, assim, vivo tão mal constituído
sobrevivendo a esse sofrimento prometêico José Heber de Souza Aguiar Porto Alegre - RS, 11/09/2008

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