perdi minhas asas
num vôo qualquer
no fundo branco
sob as palavras
que escrevi atento
como quem tudo quer
mas que nada tem
senão o contentamento
presenteado pelo verso
cuspido com gosto
suado com toda a vida
de meu ser na solidão imerso
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Caminhar
Caminhamos, sabendo vez e outra
onde queremos ir, e vamos.
Vez e outra sabemos dos cursos
percursos e percalços da estrada.
Estradeamos, arrastando-nos sobre pedras afiadas
e respiramos o pó sacudido por nossos próprios passos.
Passamos, e a estrada põe-se agarrada às pedras
(como uma mãe se agarra ao filho recém-nascido):
o caminho morre sufocado pelas crateras
do sol-chuva que não se intimida.
As marcas da estrada caminham conosco
agarradas em nossas pernas, braços, rostos
lacrimejando na pele ressequida
pelo sol impiedoso que nos abrasa, nos arrasa
até o fim do percurso
onde a experiência ímpar do caminhar
vale muito mais que o fruto passageiro
do obstáculo vencido.
onde queremos ir, e vamos.
Vez e outra sabemos dos cursos
percursos e percalços da estrada.
Estradeamos, arrastando-nos sobre pedras afiadas
e respiramos o pó sacudido por nossos próprios passos.
Passamos, e a estrada põe-se agarrada às pedras
(como uma mãe se agarra ao filho recém-nascido):
o caminho morre sufocado pelas crateras
do sol-chuva que não se intimida.
As marcas da estrada caminham conosco
agarradas em nossas pernas, braços, rostos
lacrimejando na pele ressequida
pelo sol impiedoso que nos abrasa, nos arrasa
até o fim do percurso
onde a experiência ímpar do caminhar
vale muito mais que o fruto passageiro
do obstáculo vencido.
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Algum lugar ao longe
algum lugar ao longe
leva um pouquinho de mim
pedaço do eu que se esconde
além do tempo ruim
vou às alturas depois de descoberta
a distância entre o que passa e o que fica
nesse meu ser que cedo ou tarde desperta
gota de alma que me explica
tão alto vôo é o que faço
que o medo do infinito não reluta
no giro eterno onde renasço
porção de loucura que me transmuta

Selecionado no Concurso:
Poemas no ônibus 16ª Edição e no trem
4ª Edição, Porto Alegre-RS, SMC/RJH, 2007/2008, p.34.
Em circulação pelos ônibus e trens de Porto Alegre em 2008/2009.
leva um pouquinho de mim
pedaço do eu que se esconde
além do tempo ruim
vou às alturas depois de descoberta
a distância entre o que passa e o que fica
nesse meu ser que cedo ou tarde desperta
gota de alma que me explica
tão alto vôo é o que faço
que o medo do infinito não reluta
no giro eterno onde renasço
porção de loucura que me transmuta

Selecionado no Concurso:
Poemas no ônibus 16ª Edição e no trem
4ª Edição, Porto Alegre-RS, SMC/RJH, 2007/2008, p.34.
Em circulação pelos ônibus e trens de Porto Alegre em 2008/2009.
domingo, 21 de outubro de 2007
Irmã Morte
(lembrando a pessoalidade de Florbela Espanca)
sinto tanto tua ausência, quem dera um dia
poder gritar mais alto que o grito forte
devolver pra ti o que é teu, a agonia
que te quebrastes a cabeça, e te fizeste morte
é a própria morte minha irmã
carrego-a comigo, e nossas responsabilidades;
é o meu destino, cada manhã
dessa vida dura de castidade
ah, que saudades de brincar contigo
é o choro de tua morte o meu amigo
a acompanhar-me em minhas jornadas
a intensidade da dor de teu umbigo
liga-te irmã morte, comigo:
havemos de caminhar almas caladas
sinto tanto tua ausência, quem dera um dia
poder gritar mais alto que o grito forte
devolver pra ti o que é teu, a agonia
que te quebrastes a cabeça, e te fizeste morte
é a própria morte minha irmã
carrego-a comigo, e nossas responsabilidades;
é o meu destino, cada manhã
dessa vida dura de castidade
ah, que saudades de brincar contigo
é o choro de tua morte o meu amigo
a acompanhar-me em minhas jornadas
a intensidade da dor de teu umbigo
liga-te irmã morte, comigo:
havemos de caminhar almas caladas
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Éschaton
emana sete dias de meu peito;
são sete loucuras
sete ruínas
sete desgraças
sete injúrias
sete perguntas
sete horas
sete inquietações
sete silêncios
sete gemidos
sete clamores
sete arrependimentos
sete minutos
sete lembranças
sete saudades
sete suspiros
sete preces
sete perdões
sete lágrimas
sete gritos
sete segundos
sete palmos de terra...
sou defunto
são sete loucuras
sete ruínas
sete desgraças
sete injúrias
sete perguntas
sete horas
sete inquietações
sete silêncios
sete gemidos
sete clamores
sete arrependimentos
sete minutos
sete lembranças
sete saudades
sete suspiros
sete preces
sete perdões
sete lágrimas
sete gritos
sete segundos
sete palmos de terra...
sou defunto
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Viagem
viajamos juntos à eternidade
de nosso olhar;
perdi-me em vil serenidade:
desejo louco
de te mais que amar
teu corpo magro e alto
- mais que meu sonho -
escapava de meu desejo incauto
nos segundos sem fim
daquele tempo enfadonho
a água verde da laguna
prateada
derramava-se em agonia, sem alguma
racionalidade que nos fizesse
amar sem nada
tua resistência em não me querer
fazer companhia
fadava-me ao te ler
e eu, sem querer que nada dissesses
nada mo disse, apenas mo lia
lias-me como quem nada lia;
como quem nada amasse.
Era eu o teu pedaço róseo de agonia
derramado às areias de Laguna
à procura de respostas sem que nada mo perguntasse
em tamanho desterro, chegamos a nosso destino...
Eu, ainda, mais que proponho
deixar-me num papel, um louco menino
que no resvalar do ônibus, na estrada
descobre o fim de tudo... Era um sonho
de nosso olhar;
perdi-me em vil serenidade:
desejo louco
de te mais que amar
teu corpo magro e alto
- mais que meu sonho -
escapava de meu desejo incauto
nos segundos sem fim
daquele tempo enfadonho
a água verde da laguna
prateada
derramava-se em agonia, sem alguma
racionalidade que nos fizesse
amar sem nada
tua resistência em não me querer
fazer companhia
fadava-me ao te ler
e eu, sem querer que nada dissesses
nada mo disse, apenas mo lia
lias-me como quem nada lia;
como quem nada amasse.
Era eu o teu pedaço róseo de agonia
derramado às areias de Laguna
à procura de respostas sem que nada mo perguntasse
em tamanho desterro, chegamos a nosso destino...
Eu, ainda, mais que proponho
deixar-me num papel, um louco menino
que no resvalar do ônibus, na estrada
descobre o fim de tudo... Era um sonho
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Expectativas
do jardim do Éden
quero as rosas
para estraçalhar-lhes as pétalas
e oferecer o sumo
aos deuses
dos deuses
quero o poder
de perpetuar-me nos inconscientes humanos
sem ser
o que a oração reza
da reza,
quero a sede dos devotos
para remover do coração
o ceticismo
que me consola
para meu consolo
quero dias
até descobrir se acabará o mundo
nas romarias
ou em igrejas esfumaçadas
quero as rosas
para estraçalhar-lhes as pétalas
e oferecer o sumo
aos deuses
dos deuses
quero o poder
de perpetuar-me nos inconscientes humanos
sem ser
o que a oração reza
da reza,
quero a sede dos devotos
para remover do coração
o ceticismo
que me consola
para meu consolo
quero dias
até descobrir se acabará o mundo
nas romarias
ou em igrejas esfumaçadas
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Canastra
corpos
quatro deles
perplexos
entreolham-se.
Esquecendo-se do mundo
desaparecem na cartada
e no olhar desconfiado
do mais experiente.
Já não recordam do trabalho
da vida dura
dos problemas
dos meninos
da igreja;
perdem-se nas lembranças
da infância adolescente
dos jogos cúmplices
dos roubos e dos olhares
da vitória suada
seguida de piscadas sorrateiras
quatro deles
perplexos
entreolham-se.
Esquecendo-se do mundo
desaparecem na cartada
e no olhar desconfiado
do mais experiente.
Já não recordam do trabalho
da vida dura
dos problemas
dos meninos
da igreja;
perdem-se nas lembranças
da infância adolescente
dos jogos cúmplices
dos roubos e dos olhares
da vitória suada
seguida de piscadas sorrateiras
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Tentações
trago na ideologia corroída pelo tempo
o desejo de saciedade da sociedade
tomada de mediocridade
e burrice
trago nos traços de velhice
a alegria - certeza do acerto -
e a frustração
mais forte que o apreço
pela verdade
trago na humana fragilidade
a ambição, desejo de ser grande:
sou tão ínfimo
que me corromper parece valer a pena....
pobre alma pequena
o desejo de saciedade da sociedade
tomada de mediocridade
e burrice
trago nos traços de velhice
a alegria - certeza do acerto -
e a frustração
mais forte que o apreço
pela verdade
trago na humana fragilidade
a ambição, desejo de ser grande:
sou tão ínfimo
que me corromper parece valer a pena....
pobre alma pequena
Soneto da dor

Publicado no Livro "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos", Rio de Janeiro:
CBJE, 2007, 39º Volume, p.42, ISBN: 978-85-60489-27-5
oh Dor, face adiada da alegria
Hermes mensageiro da morte
caístes sempre no coração que não queria
a separação eterna, a solidão tão forte
vens tão rápida feita vulto
pondo-se a alimentar sua fome profana
presenteando, onde pisas, com o luto
alimentando-se da tristeza humana
escorregam da velhice dos rostos
tua filhas paridas, tua fertilidade
como lágrimas a reinar em toda idade
oh terrível dor, ris-se frente aos mortos;
o ser humano por tanto amar, não te ama
antes, te quer fumaça, passado, morta chama
sábado, 29 de setembro de 2007
Março

mais um março
mais um maço
desses dias-a-dias
de dores nas juntas
e cansaço
passo
impunhando mais um passo
nas ruas das agonias
das loucuras injuriosas
e faço...
março em maço
gestando passos de cansaço:
ingenuamente passo
dias-a-dias de março em cansaço
Publicado no livro "Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos", Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 36º Volume, p.46, ISBN: 978-85-60489-27-5
Soneto de Definição

eu sou aquele que sobre as manhãs levanta
e junta sob sua depressiva cama
o pedaço que dormiu procurando a quem o ama
encontrando-o tão frio que mesmo à morte espanta!
sou o que antes de dormir sonhou:
tudo era tão lindo, beleza, encanto...
mas de súbito se derrete em prantos
adormecido, com a morte se casou
aquele sou eu... vivo tão sem sorte
- sem saber se existe mesmo esse tal norte -
caminhando pela estrada do avesso
sou aquele peregrino do deserto
que sem saber existir um rumo certo
busca na estrada, o recomeço
Publicado no livro:
I Antologia Internacional de Poesias "Mares diversos, Mar de Versos",
Rio de Janeiro: Mar de idéias, 2007, p.53, ISBN: 978-85-61010-03-4
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Extremos
(Fujo dos extremos como o “diabo foge da cruz”)
sou puro
feito de matéria
rara
rosto celeste
cabeça de Deus
(o Ideal me sustenta)
pele de anjo
sou nulo
feito de matéria
vaga
rosto confuso
cabeça doída
(o sol me mata)
pele de bicho
sou sonho
feito de matéria
decente
rosto de gente
cabeça de homem
(como quem tem vida)
pele sadia
sou puro
feito de matéria
rara
rosto celeste
cabeça de Deus
(o Ideal me sustenta)
pele de anjo
sou nulo
feito de matéria
vaga
rosto confuso
cabeça doída
(o sol me mata)
pele de bicho
sou sonho
feito de matéria
decente
rosto de gente
cabeça de homem
(como quem tem vida)
pele sadia
sábado, 15 de setembro de 2007
A capa falsa da mentira
ouvi muitas vezes:
mentira bem contada
e repetida com insistência
costuma tornar-se verdade.
Também ouvi:
ato errado
realizado sem testemunha
é legítimo:
quem poderá provar a leviandade?
os políticos mentem, creio (mais) agora
(ainda mais
se a verdade lhes custar
as tetas
de onde sugam
o leite
pago pelo suor
do cidadão honesto)
as teorias mentem, creio agora.
Tudo mente
até o ditado:
“a mentira tem pernas curtas”;
o pior de tudo
é que essa vadia
tem pernas longas
e corre muito
pondo-se escondida
sob os palanques
das próximas campanhas eleitorais
onde já não existe memória
e a “verdade” reina livre
estou convicto:
a retórica insistente
é mãe de toda mentira
descarada
(agradeço aos senadores brasileiros
a ajuda para que eu pudesse concluir isso)
a mentira tem pernas longas e corre
mas um dia haverá de cansar
e a verdade aparecerá
sobre as capas falsas
(estampadas na face dos cínicos)
que a mentira apelidou de honestidade
mentira bem contada
e repetida com insistência
costuma tornar-se verdade.
Também ouvi:
ato errado
realizado sem testemunha
é legítimo:
quem poderá provar a leviandade?
os políticos mentem, creio (mais) agora
(ainda mais
se a verdade lhes custar
as tetas
de onde sugam
o leite
pago pelo suor
do cidadão honesto)
as teorias mentem, creio agora.
Tudo mente
até o ditado:
“a mentira tem pernas curtas”;
o pior de tudo
é que essa vadia
tem pernas longas
e corre muito
pondo-se escondida
sob os palanques
das próximas campanhas eleitorais
onde já não existe memória
e a “verdade” reina livre
estou convicto:
a retórica insistente
é mãe de toda mentira
descarada
(agradeço aos senadores brasileiros
a ajuda para que eu pudesse concluir isso)
a mentira tem pernas longas e corre
mas um dia haverá de cansar
e a verdade aparecerá
sobre as capas falsas
(estampadas na face dos cínicos)
que a mentira apelidou de honestidade
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Uruará
(Lembrando o aniversário desse cantinho do PARÁiso em 13/09/2007)

vou
rápido
para não deixar
rastro:
o berço
me chama
a dor
em mim
não cala
a saudade
inflama
a lembrança
da cidade
que me deu seio
e que meu peito ama
derramarei
flores
no cesto
de sua alma
onde perpetua
a voz que clama
o retorno
dos pródigos filhos
à terra que lhes ama
Publicado no Livro: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 40º Volume, p.34, ISBN: 978-85-60489-27-5.
vou
rápido
para não deixar
rastro:
o berço
me chama
a dor
em mim
não cala
a saudade
inflama
a lembrança
da cidade
que me deu seio
e que meu peito ama
derramarei
flores
no cesto
de sua alma
onde perpetua
a voz que clama
o retorno
dos pródigos filhos
à terra que lhes ama
Publicado no Livro: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE, 2007, 40º Volume, p.34, ISBN: 978-85-60489-27-5.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Questão de Fé
gritam os sinos
ouço o desespero do badalo
a pressa dos anjos
a lentidão das horas
dispersa-se no tempo
a dúvida, teimosa agonia:
subir degraus, beijar Maria?
cuspir orações como escarro
as almas não animam a hora
nem os santos meu dia...
a reza cansa:
o eco insiste
a dúvida persiste
o santo espera
a vela morre
a chama apaga
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, CBJE/BrLetras, 2007, 37º Volume, p.41, ISBN: 978-85-60489-27-5
Publicado também no livro: Panorama Literário Brasileiro 2007/2008: As melhores poesias de 2007. Rio de Janeiro, CBJE/BrLetras, p.147, ISBN: 978-85-7810-073-5
Piada pra Deus
subi os montes
pernas pequenas
passos miúdos
respiração amena
toquei o céu
pedi bênção a Deus
caí no mundo
jogado ao léu
perdi-me nos dias
a amar as horas
cantando salmos
nas romarias
voltei à estrada
escalei os montes
abri as nuvens
e contei piada pra Deus
pernas pequenas
passos miúdos
respiração amena
toquei o céu
pedi bênção a Deus
caí no mundo
jogado ao léu
perdi-me nos dias
a amar as horas
cantando salmos
nas romarias
voltei à estrada
escalei os montes
abri as nuvens
e contei piada pra Deus
Segundo
roda mundo
gira tudo
contra todos
os minutos
passageiros
do profundo:
peregrino
importuno
a entreter
a razão
num milésimo
de segundo
gira tudo
contra todos
os minutos
passageiros
do profundo:
peregrino
importuno
a entreter
a razão
num milésimo
de segundo
Prece
(lembrando a pessoalidade de Fernando Pessoa)
pus-me ajoelhado
curvado ao Sumo Bem,
- o Deus dos cristãos -
que atende os pedidos, calado
se alguém os têm
invoquei-lhe em prece:
ó Deus misericórdia
Deus-amor
Deus-compaixão
traz para perto de mim
o cálice (não o outro cálice)
pra que eu beba, e porre
sinta o fartio da solidão que me vem
pus-me ajoelhado
curvado ao Sumo Bem,
- o Deus dos cristãos -
que atende os pedidos, calado
se alguém os têm
invoquei-lhe em prece:
ó Deus misericórdia
Deus-amor
Deus-compaixão
traz para perto de mim
o cálice (não o outro cálice)
pra que eu beba, e porre
sinta o fartio da solidão que me vem
Culto
submisso
ao tempo
ajoelhado
presto-lhe culto
embora resista
às Ave-Marias
oferecidas
aos dias vagos
que a razão
dispensa:
sou mais fiel
que a crença
em milagre
sem osso
ao tempo
ajoelhado
presto-lhe culto
embora resista
às Ave-Marias
oferecidas
aos dias vagos
que a razão
dispensa:
sou mais fiel
que a crença
em milagre
sem osso
Canto
canto
do mau
tempo
o pranto
grito
tão alto
quanto o eco
mais estridente
e afugentado
do canto
de minha alma:
espremido
no canto
do mundo
conto os dias
do mau
tempo
o pranto
grito
tão alto
quanto o eco
mais estridente
e afugentado
do canto
de minha alma:
espremido
no canto
do mundo
conto os dias
Contra toda solidão
a rosa escancarada grita!
assustada treme
geme o medo
freme
o pudor do pólen que a excita
bendita é a voz que chama
pondo-se a estontear a razão
absoluta por querer
derramar-se em paixão...
essa coisa louca, eterna trama
feliz é todo coração que ama
e que antes de amar
sabe saber...
esforçar-se por calar
a estupidez da solidão que no vago se derrama
Publicado no:
Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2007, p.47, ISBN: 978-85-60489-27-5
assustada treme
geme o medo
freme
o pudor do pólen que a excita
bendita é a voz que chama
pondo-se a estontear a razão
absoluta por querer
derramar-se em paixão...
essa coisa louca, eterna trama
feliz é todo coração que ama
e que antes de amar
sabe saber...
esforçar-se por calar
a estupidez da solidão que no vago se derrama
Publicado no:
Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro: CBJE/BrLetras, 2007, p.47, ISBN: 978-85-60489-27-5
sábado, 8 de setembro de 2007
Pedacinho de céu
Quanta saudade de teu riso
e da tua voz criança
chamando: “tio Bergue”!
Ah! Tê-la aqui a me fazer pequeno!
Voltar à infância me prestaria,
como sempre faço
quando contigo estou.
(Sem você) Os meus dias são tão longos,
mesmo em tão poucas horas...
É que a ânsia de estar contigo
(levá-la à pracinha de Uruará;
pô-la no mundo da fantasia;
fazê-la deslizar no escorregador de sonhos;
vê-la flutuar naquele balanço vermelho),
faz-me maior que minha paciência.
Queria estar perto de ti
meu pedacinho de céu de três anos
para ouvir a suavidade da inocência criança
fazendo-se voz pela tua boca.
A expressão máxima do mundo,
sem dor ou maldade, vejo em teus olhos,
mas sou eu que carrego
a dor da saudade que existe em mim.
Publicado no livro:
Poemas Dedicados,
CBJE, RJ, 2007
e da tua voz criança
chamando: “tio Bergue”!
Ah! Tê-la aqui a me fazer pequeno!
Voltar à infância me prestaria,
como sempre faço
quando contigo estou.
(Sem você) Os meus dias são tão longos,
mesmo em tão poucas horas...
É que a ânsia de estar contigo
(levá-la à pracinha de Uruará;
pô-la no mundo da fantasia;
fazê-la deslizar no escorregador de sonhos;
vê-la flutuar naquele balanço vermelho),
faz-me maior que minha paciência.
Queria estar perto de ti
meu pedacinho de céu de três anos
para ouvir a suavidade da inocência criança
fazendo-se voz pela tua boca.
A expressão máxima do mundo,
sem dor ou maldade, vejo em teus olhos,
mas sou eu que carrego
a dor da saudade que existe em mim.
Publicado no livro:
Poemas Dedicados,
CBJE, RJ, 2007
A Mor Te

A
Mor
Te
Amo
A mor te
Amo
Amo-te amor
E toma-me amor
Toma-me a morte
Amo
Amo-te
E toma
Amo-te
A mor te
Amo
Formato Original:
http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdeamor/208327
Publicado no livro:
I Antologia Internacional de Poesias "Mares diversos, Mar de Versos",
Rio de Janeiro: Mar de idéias, 2007, p.54, ISBN: 978-85-61010-03-4
Publicado em:
Caderno Literário nº 15, abril de 2009;
Tema "AMOR". Ed. Pragmatha, Porto Alegre - RS.
Complacência
preso e livre entre quatro portas
donde vem o vento frio angustido,
aonde vai meu espírito imbuído
pelas ruas brancas de gentes tortas
vai e caminha além-vida
tropeça nas dores de um choro rouco
dum homem mais que livre e louco
por quem a esperança mais garrida
o tempo em ser tempo... um caduco
no caminho à dor explícita do mendigo
é um espelho? mas parece comigo
sobrevivo na luta em disfarçar-me eunuco
esvai-se estúpido em relento, o ideal frio
a palavra vã do mais que louco espanto
é grito covarde, amando em acalanto...
aonde vai? Ao meu e teu olhar sombrio
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
donde vem o vento frio angustido,
aonde vai meu espírito imbuído
pelas ruas brancas de gentes tortas
vai e caminha além-vida
tropeça nas dores de um choro rouco
dum homem mais que livre e louco
por quem a esperança mais garrida
o tempo em ser tempo... um caduco
no caminho à dor explícita do mendigo
é um espelho? mas parece comigo
sobrevivo na luta em disfarçar-me eunuco
esvai-se estúpido em relento, o ideal frio
a palavra vã do mais que louco espanto
é grito covarde, amando em acalanto...
aonde vai? Ao meu e teu olhar sombrio
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
Anjo Antigo
eu era filho de inocência pura
como flor sensível à luz do sol que queima
mergulhei no desconhecido e tornei-me eu
em busca débil de tornar-me infinito
de grito em grito colhi flores
colhi-me em mim mesmo
embelezei o turvo do desconhecido
iluminei-me em certezas e desejos
bastei-me de ser o que não era...
minha quimera exaurida em dúvidas
anjo puro, guardião de verdades sãs
completei-me de buscas em quimeras
tais quais verdades crentes, lúcidas
em verdades cruas, elucidativas, pagãs
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
como flor sensível à luz do sol que queima
mergulhei no desconhecido e tornei-me eu
em busca débil de tornar-me infinito
de grito em grito colhi flores
colhi-me em mim mesmo
embelezei o turvo do desconhecido
iluminei-me em certezas e desejos
bastei-me de ser o que não era...
minha quimera exaurida em dúvidas
anjo puro, guardião de verdades sãs
completei-me de buscas em quimeras
tais quais verdades crentes, lúcidas
em verdades cruas, elucidativas, pagãs
Publicado nos:
Cadernos Canoenses
em Agosto de 2006 - CANOAS –RS
Clamor
dá-me caminho, casa, existir
dá-me ser, compreender...
tua dureza humana
rígida
sobrevivo aqui
nula existência;
vagabundo me proclamas
vagamundo sou...
feito pobre, tão pequenininho
jogado ao mundo
sob o burburinho
dos xingões e ira de teu desprezo
ah, ter casa e não viver aí
sob os trapos de tua rejeição;
faz tanto frio
sobre a calçada:
relva de minha extinção
pedra sou
lixo em seu caminho;
nem cachorro me resta ser
(ah! ser um), vivo sozinho...
Sem desfrutar a ração que os teus cães comem
ah, ser gente, a ser nada...
homem duro, sem coração;
pisas-me os braços
e chutas-me a cabeça
mas dar-me as mãos e me levantar que é bom
não passa por tua inteligência humana negligenciada
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
CBJE, RJ, 38º Volume.
dá-me ser, compreender...
tua dureza humana
rígida
sobrevivo aqui
nula existência;
vagabundo me proclamas
vagamundo sou...
feito pobre, tão pequenininho
jogado ao mundo
sob o burburinho
dos xingões e ira de teu desprezo
ah, ter casa e não viver aí
sob os trapos de tua rejeição;
faz tanto frio
sobre a calçada:
relva de minha extinção
pedra sou
lixo em seu caminho;
nem cachorro me resta ser
(ah! ser um), vivo sozinho...
Sem desfrutar a ração que os teus cães comem
ah, ser gente, a ser nada...
homem duro, sem coração;
pisas-me os braços
e chutas-me a cabeça
mas dar-me as mãos e me levantar que é bom
não passa por tua inteligência humana negligenciada
Publicado no livro:
Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos,
CBJE, RJ, 38º Volume.
Inspiração
sentei-me sobre meu leito
e de súbito, abraçado ao violão
quedei-me a esperar as atordoadas tramas
o que chamo inspiração
não veio nem o azul, o claro, o verde
a letra, a raiva, a calmaria
não veio na nota, o susto, o horror
nem o sentimento que me abarcaria
nem a imagem veio, a beleza do rosto
a pele sensível que me abrazaria
o toque dos lábios, suave doce
da boca louca que me beijaria
o sentir eterno não veio
o gosto agridoce não apareceu
o poema, filhote caseiro
abortou-me e a poesia morreu
e de súbito, abraçado ao violão
quedei-me a esperar as atordoadas tramas
o que chamo inspiração
não veio nem o azul, o claro, o verde
a letra, a raiva, a calmaria
não veio na nota, o susto, o horror
nem o sentimento que me abarcaria
nem a imagem veio, a beleza do rosto
a pele sensível que me abrazaria
o toque dos lábios, suave doce
da boca louca que me beijaria
o sentir eterno não veio
o gosto agridoce não apareceu
o poema, filhote caseiro
abortou-me e a poesia morreu
Menino Danado
a banhar na chuva vivia
meu corpo magro, leve, esguio
em tão eterno momento sagrado
que a meu tempo devotava o frio
menino magrinho de olhos pretos
pedaço de sonho, de querer-se assim
tiquinho de timidez, pouquinho de encanto
do que é infinito e se eterniza, enfim
menino traquino, pedaço danado
vacante no mundo do além
a machucar as mãos, cortar os dedos
a viver preso tão como ninguém
meu corpo magro, leve, esguio
em tão eterno momento sagrado
que a meu tempo devotava o frio
menino magrinho de olhos pretos
pedaço de sonho, de querer-se assim
tiquinho de timidez, pouquinho de encanto
do que é infinito e se eterniza, enfim
menino traquino, pedaço danado
vacante no mundo do além
a machucar as mãos, cortar os dedos
a viver preso tão como ninguém
As Palavras
as palavras de tão cegas
fogem da ignorância
fugidias da lembrança
vão-se pra outras eras
donde retornam
tontas, a caberem nos ditados
nas expressões que se formam
dos sentimentos gerados
as palavras vão e voltam
como vão e voltam os seres
encontrando-se no verbo
as palavras se extraviam e morrem
mas ressuscitam, eternizando-se
na necessidade humana de comunicar
Porto Alegre - RS
22/08/2007
fogem da ignorância
fugidias da lembrança
vão-se pra outras eras
donde retornam
tontas, a caberem nos ditados
nas expressões que se formam
dos sentimentos gerados
as palavras vão e voltam
como vão e voltam os seres
encontrando-se no verbo
as palavras se extraviam e morrem
mas ressuscitam, eternizando-se
na necessidade humana de comunicar
Porto Alegre - RS
22/08/2007
A Larapia
(contraponto à poesia A Pátria, de Olavo Bilac)
odeia com afinco e desgosto, a terra em que nasceste
pobre, não verás nenhum país como este!
olha que céu! que lar! que brios! e que moléstia!
a natureza aqui, perpetuamente em sesta
é um rio de lama, a escorrer dos garimpos
vê como vida havia no chão! vê que vida habitava nos ninhos
que se balançam no ar, entremeados de insetos!
vê que cruz, que pavor, que multidão de inquietos!
vê as extensões de matas, onde impera
a serra raivosa e a eterna sorte dela!
boa terra! Jamais negou a quem lhe esmigalha
o tanto de mata que some, o motor que estraçalha
quem sem pôr suor a inunda e a empobrece
vê pago seu esforço, e feliz, enriquece!
pobre! não terás pão nenhum aqui neste
grita, por grandeza, na terra onde empobreceste
odeia com afinco e desgosto, a terra em que nasceste
pobre, não verás nenhum país como este!
olha que céu! que lar! que brios! e que moléstia!
a natureza aqui, perpetuamente em sesta
é um rio de lama, a escorrer dos garimpos
vê como vida havia no chão! vê que vida habitava nos ninhos
que se balançam no ar, entremeados de insetos!
vê que cruz, que pavor, que multidão de inquietos!
vê as extensões de matas, onde impera
a serra raivosa e a eterna sorte dela!
boa terra! Jamais negou a quem lhe esmigalha
o tanto de mata que some, o motor que estraçalha
quem sem pôr suor a inunda e a empobrece
vê pago seu esforço, e feliz, enriquece!
pobre! não terás pão nenhum aqui neste
grita, por grandeza, na terra onde empobreceste
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